13/04/2005 - 7:00
O principado mais famoso do mundo está trocando de guarda. Na madrugada da quarta-feira 6, após uma agonia de quase 20 dias num leito de hospital, o príncipe Rainier III morreu aos 81 anos, deixando o trono de Mônaco para seu filho Albert. A chegada ao poder do príncipe de 47 anos é uma garantia de que tudo será como sempre neste enclave de festas, jogo e ausência de impostos na Costa Azul francesa. Com seu 1,9 quilômetro quadrado de ruas sinuosas e escarpadas, 30 mil habitantes e 50 casas bancárias, Mônaco continuará sendo um refúgio seguro, charmoso e atraente para famosos e milionários de todo o mundo, que ali mantêm endereços fiscais, ancoram iates e aproveitam o festivo modo de vida. A lista inclui o piloto Michael Schumacher, a modelo Claudia Schiffer e o tenor Luciano Pavarotti. Os moradores não precisam explicar a origem de seu dinheiro. As receitas do principado, que apresenta um fluxo de capitais de US$ 45 bilhões ao ano, advém de taxas, de uma parcela dos lucros do cassino, do turismo e dos serviços bancários e de telecomunicações. As vantagens do sigilo e da não cobrança de imposto de renda, em compensação, alimentam a especulação imobiliária. Um apartamento pode ter um metro quadrado cotado em US$ 20 mil, sem que isso pareça um escândalo. Com 90 câmeras de tevê para vigiar suas ruas, Mônaco manteve sua fama de local seguro para celebridades até mesmo após a morte do magnata brasileiro Edmond Safra, em 1999. Safra teve seu apartamento incendiado pelo motorista e o caso foi considerado uma exceção que confirma a regra de paz no penhasco.
Com pompa e circunstância, como quase tudo com o selo monegasco, Rainier será sepultado na próxima sexta-feira 15. O presidente francês Jacques Chirac foi um dos primeiros chefes de Estado a enviarem suas condolências à família e aos súditos. A França é a grande protetora do status quo no principado, e Chirac foi direto ao ponto ao afirmar que Rainier soube preservar ?os elementos tradicionais que, ao longo do tempo, criaram a originalidade de Mônaco?. Em outras palavras, deixou claro ao sucessor Albert que seu país não será um elemento de pressão por regras mais rígidas na liberal legislação financeira do principado. Em 1993, Rainier venceu as pressões dos que exigiam uma maior fiscalização do dinheiro que aporta nos bancos do principado. Sem grandes mudanças nas regras, ele conseguiu incluir Mônaco na União Européia e promoveu a adesão ao euro.
Albert vai continuar os 700 anos da dinastia Grimaldi no poder em Mônaco. Ele promete manter intacto todo o charme do principado. Solteiro e cobiçado, gosta de festas, esportes e diversão. Os bailes mensais, a corrida anual de Fórmula-1 e, principalmente, o vasto pacote de benefícios fiscais nunca estiveram em questão na sucessão agora consumada. Nesta monarquia constitucional estabelecida em 1911, ele passa a ter poderes para nomear o primeiro-ministro e todos os juízes do Supremo Tribunal. A maior concessão à democracia é a eleição de um Conselho Nacional de 24 integrantes, com cinco anos de mandato. Suas funções, no entanto, são apenas decorativas. Só quem manda no príncipe é mesmo a economia com suas regras de paraíso fiscal.