O maior fundo de pensão da América Latina, a Previ, que administra R$ 160 bilhões em recursos dos empregados do Banco do Brasil, terá novo comando a partir do dia primeiro de junho. A posse de três novos diretores e de vários conselheiros, eleitos pelos funcionários, foi a data escolhida pelo governo para formalizar a mudança, com a saída de Ricardo Flores. No cargo desde junho de 2010 e com mandato até 2014, Flores não está saindo por causa dos resultados, que têm mantido o fundo como o investidor mais cortejado pelo setor privado. Ele deixa o cargo por seu envolvimento no vazamento para a imprensa de dossiês que culminaram na demissão de importantes dirigentes do banco e irritaram a presidenta Dilma Rousseff. 

 

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De saída: Ricardo Flores deixa a presidência do fundo de pensão estatal,

após se envolver no vazamento de dossiês para a imprensa.

 

Do lado do banco, quem saiu foi o vice-presidente de governo da instituição, Ricardo Oliveira, ligado ao PT e ao secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, e aliado do presidente Aldemir Bendine. Oliveira foi substituído, na semana passada, pelo ex-senador e ex-governador baiano César Borges, do PR. Bendine, que tem uma boa relação com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, deve continuar na função. A substituição de Flores deve acontecer internamente, com a nomeação de um dos vice-presidentes do Banco. Os mais cotados são o vice-presidente de negócios de varejo, Alexandre Abreu, e o vice-presidente de gestão financeira e de relações com investidores, Ivan de Souza Monteiro. 

 

Abreu, responsável pelo programa Bom para Todos, que reduziu as taxas de juros, ocupa uma função estratégica para o banco e para o governo neste momento, e pode não ser liberado por Bendine para mudar de cargo. Além disso, ele tem dito que não gostaria de trocar de emprego justamente quando ainda está implantando o programa. Monteiro, dono de um perfil técnico, sem ligações políticas conhecidas, tem uma longa carreira no banco e já trabalhou em agências em Portugal e nos Estados Unidos. Outro cotado é Robson Rocha, vice-presidente de Gestão de Pessoas e presidente do conselho deliberativo da Previ, cujo mandato deverá expirar no fim deste mês. É filiado ao PT e reúne requisitos técnicos e políticos. Outro nome lembrado na instituição é o vice-presidente de atacado, negócios internacionais e private bank, Paulo Rogério Caffarelli. 

 

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Bendine, o discreto: gestão técnica do presidente do Banco do Brasil é apreciada por Dilma.

 

Na disputa de poder entre o banco e o fundo de pensão dos funcionários, Bendine saiu ganhando, graças aos bons resultados da instituição e à sua discrição – qualidades apreciadas pela presidenta Dilma. Ele conseguiu implementar uma gestão mais técnica e, ao mesmo tempo, cumprir as determinação do governo, de utilizar os bancos públicos para induzir tanto a retomada do crédito no mercado, quanto a redução das taxas de juros, desde o mês passado. Líder em ativos, depósitos e crédito, o BB atingiu, no primeiro trimestre, a marca de R$ 1 trilhão em ativos, 16% mais do que no mesmo período do ano anterior, com lucro de R$ 2,7 bilhões e retorno sobre o patrimônio de 19,7%. A Previ tem igualmente bons resultados para mostrar. 

 

O fundo tem conseguido gerir com competência seu patrimônio: desde 2007, vem dispensando contribuições tanto de funcionários quanto do banco, no plano mais antigo, e a partir do ano passado começou a devolver parte do superávit acumulado. Até agora, foram distribuídos R$ 15 bilhões: uma metade foi para o BB e a outra para os mais de 100 mil associados da Previ, entre funcionários da ativa e pensionistas. O patrimônio gigantesco torna o fundo um cobiçado parceiro para empresas interessadas em pulverizar o capital ou realizar novos investimentos. Ele tem participações em dezenas de grandes empresas, entre elas ALL, AmBev, Embraer, Petrobras e Vale (onde ocupa a presidência do Conselho de Administração) e investimentos em empreendimentos imobiliários, especialmente edifícios comerciais e shopping centers. No ano passado, a rentabilidade foi de 7,7%, com ganho de 32% na carteira imobiliária, que chegou a R$ 6 bilhões. 

 

Ricardo Flores não quis dar entrevista para falar sobre seu futuro. Na Previ, embora sua demissão já seja dada como um fato consumado, Flores cumpre agenda normalmente. Oficialmente, o fundo só confirma a posse dos diretores e conselheiros que estão sendo escolhidos pelos participantes do fundo – metade dos cargos é ocupada por membros eleitos e um cargo de diretor e dois de conselheiro estão em jogo, numa eleição que começou no dia 18 e vai até o dia 29. No mercado, o comentário é que Flores iria para a BrasilPrev, a empresa de previdência do BB. O atual presidente da BrasilPrev é Sérgio Rosa, antecessor de Flores na Previ. Ele pediu demissão no início do mês e negou os boatos de que pretenda voltar para o fundo, lembrando que já se aposentou e que o estatuto exige que o presidente seja um funcionário da ativa do Banco do Brasil.

 

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