21/11/2021 - 8:00
Foi no Teatro de Dança Galpão, em São Paulo, da década de 1970, que o talento do bailarino Ismael Ivo (1955-2021) começou a chamar a atenção. Paulistano da Vila Ema, ele se defina com um bailarino de rua desde que descobriu o desejo de se expressar por meio da dança. Foi coreógrafo, diretor e curador, criando espetáculos que comoveram o público não apenas no Brasil, mas em palcos de Nova York (ele recebeu elogios do New York Times desde sua primeira apresentação solo, em 1984), e de toda a Europa. Em Viena, fundou o ImPulsTanz. Foi curador da Bienal de Veneza e dirigiu a companhia de dança do Teatro Nacional Alemão.
Uma de suas características mais marcantes era forte a presença cênica, com um gestual expansivo influenciado pela dança expressionista. Em sua volta ao Brasil, em 2017, assumiu a direção do Balé da Cidade de São Paulo, no qual já havia se consagrado no início dos anos 1980. Infectado pelo coronavírus, Ismael Ivo não resistiu. Despediu-se dos palcos – e da vida – em abril deste ano, depois de um mês internado no hospital Sírio-Libanês.
+ Inclusão de pessoas negras em conselhos de administração ainda é desafio, diz executiva
Artista brasileiro de origem humilde que conquistou o mundo enfrentando todo tipo de preconceito, ele é o homenageado de 2021 no Troféu Raça Negra, premiação que faz parte das atividades da Afrobras, organização não governamental fundada em 1997 que se dedica a promover informação, formação, capacitação, qualificação e ações afirmativas para inserção e visibilidade do negro brasileiro.
O troféu é entregue anualmente no âmbito das comemorações do Dia Nacional da Consciência Negra (20 de novembro) e reúne, personalidades e autoridades negras e não negras, nacionais e internacionais, que tenham contribuído para aprofundamento e ampliação da valorização da raça negra. Trata-se de um reconhecimento justo e oportuno aqueles que têm contribuído constantemente pela luta em favor da igualdade racial. No caso de Ismael Ivo, além da glória artística, sua carreira como gestor foi marcada por um episódio de conotação racista.
Em agosto de 2020, tornaram-se públicas denúncias de integrantes do Balé da Cidade de São Paulo acusando Ismael de assédio moral. Um processo interno de investigação foi conduzido pelo Instituto Odeon, na época administrador do Theatro Municipal. Embora a investigação não tenha encontrado evidências de qualquer conduta inadequada e, por tanto, absolvido Isamael Ivo, ele acabou desligado do corpo de baile. Um movimento interno de funcionários questionou a demissão, alegando que as acusações contra ele eram “levianas e improcedentes”, feitas por pessoas “que não se sentiram representadas por um homem negro”.
Como em anos anteriores (exceto em 2020, quando foi virtual, devido à pandemia), a entrega do Troféu Raça Negra será realizada em uma cerimônia para convidados na Sala São Paulo, no domingo (21). A irmã de Ismael Ivo, Vera, receberá o prêmio em nome do homenageado. Também serão premiados Christian Gebara, CEO da Vivo, e Frederico Trajano, CEO do Magazine Luiza.