Quem vê o cineasta José Padilha, diretor de Tropa de Elite, com seu indefectível boné, de jeans e camiseta dando entrevistas pelas tevês do País, não imagina que o início de sua vida profissional foi numa mesa de operações, negociando ouro. Pois foi. No início da década de 90, ele cursava administração de empresas na PUC do Rio  e começou a trabalhar no extinto Banco Nacional.Foi nesse ambiente que ele passou a se entrosar com o mundo dos lucros e das planilhas Excel. Experiência que, anos depois, ele aplicou em seu maior empreendimento. “Eu não gostava nada de trabalhar no mercado financeiro.  Depois de oito meses, pedi pra sair e resolvi virar documentarista”, disse o diretor à DINHEIRO. O interesse inicial pelo mundo dos negócios explica-se pela profissão de seu pai. “Ele trabalhou na Nasa, no projeto Apolo, e quando voltou ao Brasil montou indústrias de produtos químicos. É um industrial.” 

 

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Padilha em ação: no cinema, ele aplica lições que aprendeu com o pai, um industrial

  

Por ter herdado a mesma alma empreendedora, Padilha decidiu contratar o que tinha de melhor no mercado. “Eu e meu sócio, Marcos Prado, ligamos para o diretor de documentários e vencedor do Oscar Nigel Noble. Nós o contratamos para dirigir o primeiro documentário que produzimos, Os Carvoeiros. 

 

Mas, em seu contrato, constava que seu salário pagaria também pelas aulas particulares que ele nos daria.” Resultado: o filme foi parar na edição de 2000 do prestigiado Festival de Sundance e Padilha e Prado iniciaram uma parceria de mais de quatro filmes premiados pela crítica.

  

Muito do sucesso do diretor, que já levou mais de 5,9 milhões de espectadores às salas de cinemas, vem dessa sua formação acadêmica. “Eu trabalho 24 horas por dia. E quanto mais você trabalha, mais sucesso tem. Um diretor é como um CEO e o filme é como uma empresa. 

 

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Dois gestores: Padilha e o sócio, Marcos Prado, fizeram um 
filme de R$ 17 milhões, cujo retorno financeiro já foi contabilizado

 

É preciso calcular os custos de produção para se levar o produto ao consumidor, e fazer uma projeção de lucros para convencer os investidores a bancarem o projeto. Pagamos salário e temos departamento financeiro, como qualquer empresa.” Como quem soma 1+1 (no caso dele, milhões), Padilha descreve os custos do longa. “O orçamento total do filme chega em R$ 17 milhões. 

 

Neles estão embutidos os custos também da impressão das cerca de 710 cópias em película do filme e do marketing de lançamento.” E o filme já se pagou? “Não sei ainda quanto entrou na minha conta. Mas, sim, ele já se pagou”, confessa Padilha, vestindo o boné de cineasta e, por um momento, se esquecendo de conferir os dividendos do seu trabalho.