“Quando você sai, não sabe se vai voltar”, diz Oleg, um soldado ucraniano em Bakhmut, o epicentro da batalha mais longa e mortal da guerra na Ucrânia. O combatente de 34 anos, de uma unidade de engenheiros do exército, alterna missões entre Bakhmut e seus arredores.

Junto com um grupo de colegas, ele deixa a cidade para remover minas alguns quilômetros ao oeste. Ali se juntará à luta por nove meses contra o grupo paramilitar Wagner, apoiado pelo exército russo.

“A artilharia e os morteiros não param. Os drones lançam granadas e na rua há combates e tiros de metralhadora”, conta Denys, de 20 anos.

Um terço de Bakhmut ainda está sob controle ucraniano.

– “Minam até os corpos” –

“Eles colocam minas até nos cadáveres de seus soldados, minam tudo quando saem”, diz Oleg ao relatar suas missões de retirada de minas, muitas vezes noturnas.

“Você não tem margem de erro, tudo depende da sua sorte”, acrescenta.

Pavlo, de 33 anos, considera que o inimigo “tem engenheiros muito preparados”.

“Eles não seguem nenhuma regra. Armadilhas, minas terrestres… são proibidas, mas eles as plantam de qualquer maneira”, afirma o homem que era bombeiro antes da invasão russa.

Embora os analistas considerem que o valor estratégico de Bakhmut é pequeno, politicamente a cidade se tornou um símbolo para os dois lados.

Para Kiev, trata-se de defender a cidade contra todas as adversidades e deixar claro para o mundo que a Ucrânia não cede à Rússia.

Militarmente, a Ucrânia busca infligir o máximo de perdas aos russos e enfraquecer suas posições em antecipação a uma grande contraofensiva para retomar os territórios ocupados do leste e do sul.

Moscou busca a vitória após uma série de derrotas no final do ano passado e espera que a captura de Bakhmut abra caminho para cidades do leste, como Sloviansk e Kramatorsk.

Até agora, a ofensiva das tropas russas no leste resultou em um progresso muito limitado. Apesar disso, Moscou não se rende e, pela enésima vez, o exército russo afirma que a captura de Bakhmut é apenas uma questão de tempo.

– Cidade em ruínas –

Seja qual for o resultado da batalha, a cidade, que tinha uma população de 70.000 habitantes antes da guerra e era famosa por seu espumante e suas minas de sal, está em ruínas.

“Dificilmente achamos uma casa inteira. Está praticamente devastada, todos os dias há bombardeios e mais ruínas”, conta Denys, que relata o barulho de obuses e explosões.

“Todo mundo está com medo”, diz o jovem soldado, que ingressou no exército no ano passado após a invasão, pouco tempe depois de sua formatura na universidade.

Alguns civis, geralmente idosos, recusam-se a deixar a cidade, mesmo condenados a viver em porões, sem água e sem eletricidade.

“Ontem encontrei uma idosa, fiquei muito surpreso”, afirma Denys. “Mesmo com explosões em todos os lugares, ela estava lá, perto de uma casa, cortando lenha para se aquecer”.