O presidente Donald Trump assinou nesta quinta-feira (31) um decreto que impõe tarifas mais altas a dezenas de países, com o objetivo de reestruturar o comércio mundial em benefício dos Estados Unidos.

+ Datafolha: 57% diz que Trump está errado ao pedir fim da ação contra Bolsonaro

As novas tarifas aduaneiras de Trump, conhecido por ter uma visão mercantilista das relações comerciais, não entrarão em vigor amanhã, como previsto inicialmente, e sim dentro de sete dias. O objetivo é dar tempo às aduanas para se preparar, explicou uma fonte do alto escalão.

“Reestruturação do comércio mundial em benefício dos trabalhadores americanos”, escreveu a Casa Branca com destaque em um dos documentos em que anunciou as novas taxas.

‘Ameaças estrangeiras’

O objetivo é “abordar ainda mais o déficit comercial anual crescente de bens dos Estados Unidos” e “proteger o país das ameaças estrangeiras à segurança nacional e à economia”, acrescentou.

As novas tarifas chegam a 41% no caso da Síria, seguida pela Suíça com 39%. A Argélia terá 30%, Bangladesh 20%, Laos 40%, e Índia 25%.

O Canadá também recebeu um golpe, com taxas passando de 25% para 35%, exceto para produtos protegidos pelo T-MEC.

“O Canadá não cooperou para conter o fluxo contínuo de fentanil e outras drogas ilícitas, e tomou medidas de represália contra os Estados Unidos”, criticou a Casa Branca. “Os cartéis mexicanos operam cada vez mais laboratórios de síntese de fentanil e nitazeno no Canadá”, acrescentou, sobre dois opioides sintéticos que preocupam os Estados Unidos.

União Europeia (UE), Japão e Coreia do Sul, alguns dos poucos parceiros que conseguiram renegociar as tarifas, estarão sujeitos a 15%, assim como a maior parte dos países. Reino Unido, Vietnã, Indonésia e Filipinas fecharam acordos preliminares.

Brasil e México

Washington aumentou para 15% os encargos para Costa Rica, Bolívia e Equador, e manteve os previstos em abril para Venezuela (15%) e Nicarágua (18%).

O Brasil aparece com 10%, mas apenas até 6 de agosto. O governo americano anunciou ontem que, sobre essa taxa mínima universal, vai acrescentar 40 pontos percentuais, o que equivale a 50%, devido, principalmente, ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, acusado de tentativa de golpe de Estado.

Trump mostrou-se hoje tolerante com o México, após ter conversado por telefone com a colega Claudia Sheinbaum. “Concordamos em prorrogar por 90 dias exatamente o acordo” atual, com o objetivo “de assinar” um tratado “dentro deste prazo ou até mais”, explicou.

O México, portanto, continuará pagando a tarifa de 25% que lhe foi imposta para incentivá-lo a combater o tráfico de fentanil, 25% nos automóveis, 50% no aço e alumínio e, a partir de sexta-feira, 50% no cobre. Os produtos incluídos no T-MEC, do qual fazem parte México, Estados Unidos e Canadá, estavam protegidos dos encargos, ou seja, a sua imensa maioria.

Foi alcançado “o melhor acordo possível” se comparado com outras nações, destacou Claudia em coletiva de imprensa. Seu país, que estava exposto a tarifas adicionais de 30%, “concordou em eliminar imediatamente suas numerosas barreiras comerciais não tarifárias, que eram muitas”, acrescentou Trump.

‘Destroem’ as regras

“Não há dúvida: o decreto e os acordos” concluídos nos últimos meses “destroem o livro de regras comerciais que governou o comércio internacional desde a Segunda Guerra Mundial”, opina Wendy Cutler, vice-presidente sênior do Asia Society Policy Institute.

“Se nossos parceiros podem preservá-lo sem os Estados Unidos ainda é uma questão em aberto”, acrescentou.

A China ficou excluída do drama porque sua trégua não expirava nesta sexta-feira, mas sim em 12 de agosto, quando as tarifas podem retornar para níveis mais altos.

Até agora, a maioria dos países enfrentava a tarifa mínima universal de 10% imposta em abril e as aplicadas sobre certos produtos, como 50% sobre o alumínio e aço e 25% sobre os automóveis. A partir de sexta-feira, entrarão em vigor sobretaxas de 50% para os produtos fabricados com cobre.

O impacto das tarifas preocupa os economistas. São consideradas um peso para a inflação, que subiu 2,6% em junho, segundo o índice PCE publicado nesta quinta-feira, e para o crescimento dos Estados Unidos.

O uso de tarifas como meio de pressão para alcançar acordos comerciais favoráveis aos Estados Unidos acabou nos tribunais. Nesta quinta-feira, foi realizada uma audiência em um tribunal de apelações de Washington para determinar se Trump excedeu suas faculdades constitucionais ao impor essas tarifas. A Casa Branca advertiu que vai recorrer à Suprema Corte se a decisão for desfavorável.