O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vai assinar nesta quarta-feira (22) o decreto que proíbe a imigração legal para proteger seus trabalhadores ante o desemprego gigantesco provocado pela pandemia de coronavírus, que já matou mais de 177.000 pessoas no planeta e que pode gerar uma “catástrofe humanitária”, segundo a ONU.

Ao mesmo tempo, no momento em que vários países se preparam para flexibilizar aos poucos as medidas de confinamento com o objetivo de reativar as economias paralisadas, os especialistas alertam para os riscos e os efeitos devastadores de uma possível segunda onda do coronavírus.

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A pandemia provoca danos econômicos graves que o apoio de governos e instituições multilaterais não consegue atenuar.

A Organização das Nações Unidas teme que a pandemia multiplique por dois o número de pessoas que passsam fome no mundo, a 265 milhões este ano, de acordo com os dados do Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU, o que seria “uma catástrofe humanitária”.

Nos Estados Unidos, onde 22 milhões de pessoas perderam os empregos na crise, o presidente Trump decidiu suspender a imigração legal permanente durante pelo menos 60 dias para proteger a mão de obra local.

“Vou assinar hoje a ordem executiva que proíbe a imigração no nosso país”, tuitou nesta quarta-feira.

A medida não afetará os vistos de trabalho temporário, e sim, os “green cards”, documento que dá residência permanente a seu beneficiário.

“Seria injusto que os americanos fossem substituídos por mão de obra vinda do exterior”, afirmou Trump.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) advertiu para a “pior crise internacional desde a Segunda Guerra Mundial” para o mundo do trabalho, em um contexto no qual o confinamento da população freia as economias.

A pandemia “pode dobrar a taxa de desemprego europeu nos próximos meses”, afirmou a consultoria americana McKinsey.

– Segunda onda –

O diretor dos Centros de Controle e Prevenção de Doença (CDCs) dos Estados Unidos, Robert Redfield, teme que “o retorno do vírus no próximo inverno” possa provocar uma situação mais difícil do que a atual e pediu à população que intensifique as precauções.

“Nós teremos a epidemia de gripe e a epidemia de coronavírus ao mesmo tempo”, afirmou em uma entrevista ao jornal The Washington Post.

A pandemia deixou mais de 177.000 mortos no mundo desde que surgiu na China em dezembro, dois terços delas na Europa, segundo um balanço estabelecido pela AFP com base em fontes oficiais. No total, foram diagnosticados mais de 2,5 milhões de casos em 193 países e territórios.

Os Estados Unidos continuam como o país mais afetado, com mais de 45.000 mortes e mais de 825.000 casos de contágio diagnosticados. Em seguida, aparecem Itália (24.648 mortos), Espanha (21.717), França (20.796) e Reino Unido (17.337).

Ao menos 4,5 bilhões de pessoas em 110 países, ou territórios, estão vivendo confinados, ou são obrigados a limitar seus movimentos, ou seja, 58% da população mundial.

Na Europa, onde o coronavírus matou mais de 110.000 pessoas, muitos países observam um confinamento mais ou menos estrito.

Países como Alemanha, Áustria, Noruega, ou Dinamarca, começaram a suspender parte das medidas de confinamento, mas com a manutenção do distanciamento social.

“Ir muito longe depressa (no desconfinamento) seria um erro”, disse a chanceler Angela Merkel.

A Alemanha autorizou os primeiros testes clínicos, com voluntários, de uma vacina contra o novo coronavírus desenvolvida pela empresa alemã Biontech e pelo grupo americano Pfizer.

Itália e França preparam para o início de maio uma flexibilização parcial das medidas, com muitas precauções.

A Espanha, que aplica um dos confinamentos mais rígidos da Europa, deseja prorrogar a determinação até 9 de maio.

O primeiro-ministro Pedro Sánchez anunciou para a segunda metade de maio a “desescalada” das medidas de confinamento em vigor desde 14 de março.

Sánchez destacou que a suspensão das restrições deve de ser “lenta e gradual, justamente porque tem que ser segura”.

A partir do próximo domingo (26), o governo permitirá que as crianças possam sair de casa para breves passeios, em sintonia com o que acontece em outros países europeus. Essa foi uma demanda que aumentou nos últimos dias entre os espanhóis.

– Contração histórica do PIB na América Latina –

Na América Latina, com mais de 5.600 mortos e mais de 113.000 casos, a pandemia pode provocar a pior contração econômica da história na região, com uma queda de 5,3% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020, segundo as previsões da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal).

No Equador, a cidade de Guayaquil concentra mais da metade dos 1.400 contágios registrados no país, onde morreram 520 pessoas. A situação é muito grave na localidade.

Maoli Plaza, 29 anos e grávida de nove meses, não sabe se sente falta de ar pela angústia, ou pelo coronavírus, diagnosticado há alguns dias.

“Não sei como está a bebê. Digo, Deus, que apareça alguém e fale ‘acabou'”, afirmou à AFP.

No Brasil, as autoridades de saúde organizaram na terça-feira em Brasília o primeiro teste em massa para diagnosticar o coronavírus, com um total de 100.000 testes previstos na capital. O país supera 40.000 casos e 2.500 mortes pela pandemia.

– Petróleo continua em queda –

Vítima da desaceleração mundial da economia, o petróleo voltou a registrar queda nesta quarta-feira.

O barril de Brent do Mar do Norte caiu mais de 12% na Ásia, a menos de 17 dólares o barril. Já o barril WTI americano se estabilizava, após cair em território negativo durante a semana pela primeira vez na história.

Nos Estados Unidos, maior produtor mundial de petróleo, mas com custos de extração elevados, a queda do barril deixa o setor em perigo. Nesse contexto, o presidente Donald Trump pediu a seu gabinete que elabore um plano de resgate para as empresas de petróleo americanas.

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