Após semanas de trégua na guerra comercial deflagrada em seu segundo mandato, o presidente dos EUA, Donald Trump, ameaçou nesta sexta-feira, 23, taxar produtos da União Europeia (UE) em 50% a partir de 1.º de junho e também cobrar tarifas de 25% de iPhones produzidos fora do país.

Em postagens em sua rede social, a Truth Social, o republicano criticou Tim Cook, presidente executivo da Apple, e diplomatas europeus que, segundo ele, são “muito difíceis de lidar”. Trump afirmou ainda que as negociações comerciais em andamento “não estavam levando a lugar nenhum”.

Mais tarde, em entrevista coletiva, Trump disse que “as conversas com a UE estão indo muito devagar”. “Eles tiram muita vantagem de nós, comercialmente falando. Eu sei como ‘jogar o jogo'”, afirmou o republicano.

Questionado sobre uma eventual tarifa sobre iPhones, ele criticou Cook. “Ele (Cook) disse que fará fábricas na Índia, mas a Apple ainda seria tarifada. Se eles estão vendendo seus produtos aqui, terão de fabricar aqui”, disse.

Trump ainda estendeu a possibilidade de o tarifaço atingir a sul-coreana Samsung. “Essas taxas podem se estender para a Samsung também. Se Apple e Samsung fizerem fábricas nos EUA, não haverá tarifas sobre elas”, disse.

A nova investida de Trump desencadeou novos receios no mercado. Ontem, as Bolsas americanas caíram. Dow Jones fechou em queda de 0,61%, S&P 500 em baixa de 0,67% e Nasdaq com retração de 1%.

Em entrevista à emissora Fox News nesta sexta, 23, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, disse que esperava que a ameaça de Trump “acenda uma chama na UE”. Segundo ele, as propostas oferecidas pelas autoridades europeias até agora ficaram aquém daquelas apresentadas por outros parceiros comerciais dos EUA.

“A UE tem um problema de ação coletiva. São 27 países, mas eles estão sendo representados por este único grupo em Bruxelas. Então, parte do feedback que tenho recebido é que os países envolvidos nem sabem o que a UE está negociando em nome deles.”

Autoridades europeias afirmaram nas últimas semanas que a equipe de Trump exigiu concessões comerciais unilaterais, oferecendo pouco em troca, o que impossibilita um avanço nas tratativas

No início de abril, o presidente americano impôs uma tarifa geral de 20% à UE como parte de sua ofensiva comercial global. Em seguida, porém, ele suspendeu a iniciativa por 90 dias. Um imposto básico de 10% sobre produtos da UE e taxas sobre carros, aço e alumínio permanecem em vigor.

Reação

O bloco europeu informou ontem que não comentaria as declarações de Trump e seus assessores. Ministros da Alemanha e da Suécia, porém, criticaram a ameaça.

Em publicação no X, a ministra das Finanças da Suécia, Elisabeth Svantesson, acusou Trump de escalar as tensões comerciais em nível “não razoável e que pode prejudicar” ambas as economias. “Precisamos de mais comércio livre, não menos”, escreveu. “Ao mesmo tempo, temos que acelerar esforços para tornar a Suécia mais atrativa para investimentos, mesmo em situação incerta como essa.”

Já o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Johann Wadephul, afirmou que as tarifas “não ajudam ninguém” e levam a mais “sofrimento nos mercados”, em comentários a repórteres em Berlim, segundo veículos de comunicação internacionais.

Wadephul disse que continuará a apoiar as negociações com Washington, mas sinalizou busca por outros acordos. Conforme a agência de notícias Reuters, o ministro alemão afirmou que espera conseguir um acordo de livre comércio com a Índia até o fim deste ano.

Embora a UE tenha muito a perder com uma guerra tarifária, também dispõe de poderosos instrumentos comerciais, incluindo a segmentação de serviços americanos, um grande centro de lucro para as gigantes da tecnologia dos EUA

Celulares

A Apple prometeu investir pelo menos US$ 500 bilhões nos Estados Unidos nos próximos quatro anos. Grande parte desse recurso já estava planejado e a empresa não deu sinais de que vá transferir sua produção para os Estados Unidos, um ponto sensível para Trump.

Analistas estimam que a fabricação de um iPhone nos EUA poderia mais do que dobrar o preço dos aparelhos para o consumidor americano. Segundo a companhia, pelo menos 50 países contribuem para a confecção de seus produtos. (COM LAÍS ADRIANA, PEDRO LIMA E AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.