Os chefes de Inteligência americanos se reúnem nesta sexta-feira (6) com o cético presidente eleito Donald Trump para tentar demonstrar a ele que a Rússia interferiu nas eleições, hackeando e-mails de líderes democratas.

A reunião acontece em um ambiente de alta tensão entre a cúpula de Inteligência e seu futuro presidente, que questionou os relatórios de que Moscou inclinou as eleições a seu favor.

A poucas horas da reunião, em declarações ao jornal The New York Times, Trump deixou claro que a tarefa de convencê-lo não será fácil.

De acordo com o magnata, a polêmica sobre a interferência russa nas eleições americanas não passa de uma “caça às bruxas”, porque ignora a capacidade de outros atores – como a China – e tem motivações políticas.

“Há relativamente pouco tempo, a China pirateou os nomes de 20 milhões de funcionários do governo”, invadindo servidores do Escritório de Administração de Pessoal em 2014 e 2015, lembrou o presidente eleito.

“Como é que agora ninguém sequer fala disso? É uma caça às bruxas política”, comentou.

Em uma aparente referência aos derrotados em 8 de novembro, Trump disse ao jornal que “estão muito envergonhados”.

“De certa forma, é uma caça às bruxas. Apenas se concentram nisso”, alfinetou.

O republicano ressaltou, porém, que não quer “que haja países pirateando o nosso país. Piratearam a Casa Branca. Piratearam o Congresso. Somos a capital mundial da ciberpirataria”.

Devem participar do encontro com Trump o diretor de Inteligência Nacional, James Clapper; o chefe da Agência de Segurança Nacional (NSA), Mike Rogers; o diretor do FBI (a Polícia Federal), James Comey; e o diretor da Agência Central de Inteligência (CIA), John Brennan.

Na quinta-feira (5), perante o Comitê de Serviços Armados do Senado, Clapper disse ter “muita” confiança nas provas coletadas.

“Os russos têm uma longa história de interferência nas eleições, nas suas e nas de outros povos”, afirmou.

“Mas nunca havíamos encontrado uma campanha tão direta para interferir com o processo eleitoral como vimos neste caso”, completou.

“Tratou-se de uma campanha multifacetada”, na qual os ciberataques foram “apenas uma parte, já que também incluía propaganda clássica, desinformação e notícias falsas”, disse Clapper.

Em testemunho apresentado por escrito, Clapper e Rogers, assim como o subsecretário de Defesa para Assuntos de Inteligência, Marcel Lettre, afirmaram que “apenas os mais altos dirigentes russos poderiam ter autorizado” essa operação, durante a qual os hackers roubaram arquivos e e-mails do Partido Democrata.

Estes arquivos foram publicados pelo WikiLeaks, prejudicando a imagem do partido e minando os esforços de campanha da candidata democrata Hillary Clinton.

“A Rússia assumiu claramente uma postura mais agressiva, ao aumentar as operações de ciberespionagem, vazaram os dados roubados nessas operações e atacaram sistemas críticos de infraestrutura”, completou Clapper.

Trump, que prometeu uma aproximação com o governo do presidente Vladimir Putin deois de sua posse, rejeitou repetidamente essas afirmações.

No Twitter, o magnata republicano zombou dos erros anteriores de Inteligência da CIA, do FBI e de outras agências, e desafiou seus chefes a provar que os ciberataques e os vazamentos são provenientes do governo de Putin.

Na noite de ontem, Trump voltou a perguntar “como e por que eles estão tão certos sobre o ciberataque”, afirmando que o Comitê Nacional Democrata impediu o FBI de ter acesso aos seus servidores.

O site BuzzFeed News afirmou que, de fato, o FBI nunca pediu para examiná-los.

Um funcionário familiarizado com o relatório confirmou à rede CNN que os intermediários que entregaram os e-mails roubados pela Rússia ao WikiLeaks foram identificados.

Além disso, as agências de Inteligência americanas interceptaram comunicações de funcionários russos de alto escalão que diziam ter celebrado a vitória de Trump como uma vitória para Moscou, segundo o jornal The Washington Post.

Uma versão “desclassificada” do relatório apresentado ao presidente – com detalhes sensíveis apagados – será publicada na próxima semana.

“Acredito que o público deva saber tudo o que for possível”, defendeu Clapper.

A esperada audiência de quinta-feira no Senado não ofereceu novas evidências, porém, para apoiar as acusações contra a Rússia.

Quando os senadores pediram que fornecesse mais provas, Clapper repetidamente indicou que não podia fazer isso em público, porque poderia prejudicar as fontes e operações da comunidade de Inteligência.