Publicação cita “volta por cima de proporções históricas” ao justificar escolha e diz que republicano é beneficiário e agente da perda de confiança nos valores liberais.Há cerca de seis meses, Donald Trump estava sentado em um tribunal em Manhattan enquanto um júri deliberava para torná-lo o primeiro ex-presidente dos Estados Unidos a ser condenado criminalmente. Contudo, nos meses seguintes, as circunstâncias em pouco tempo se transformaram e Trump acabaria por protagonizar um retorno dramático à Casa Branca após conquistar uma vitória nas eleições presidenciais de novembro.

Nesta quinta-feira (12/12), essa reviravolta política foi consagrada em mais dois episódios. Pela manhã, Trump tocou o sino de abertura na Bolsa de Valores de Nova York, a poucos quarteirões do tribunal que o condenou. Pouco depois, foi escolhido pela revista Time como a Pessoa do Ano de 2024.

“Por organizar uma volta por cima de proporções históricas, por conduzir um realinhamento político único em uma geração, por remodelar a Presidência americana e alterar o papel da América no mundo, Donald Trump é a Personalidade do Ano de 2024 da Time”, informou a revista em um comunicado.

Trump, que derrotou a vice-presidente democrata Kamala Harris em 5 de novembro, aparece na capa desta semana da Time ostentando sua distinta gravata vermelha e fazendo uma pose pensativa.

As honrarias para o empresário do ramo imobiliário que virou político representam o mais recente capítulo em seu relacionamento de amor e ódio com a cidade de Nova York. Elas também dão a medida do notável retorno de um ex-presidente que parecia condenado ao ostracismo ao se recusar a aceitar sua derrota eleitoral quatro anos atrás.

“Testemunhamos um ressurgimento do populismo, uma crescente desconfiança nas instituições que definiram o último século e uma fé cada vez menor de que os valores liberais levarão a vidas melhores para a maioria das pessoas. Trump é tanto agente quanto beneficiário disso tudo”, disse a nota da Time.

“Para o bem ou para o mal”

Sam Jacobs, editor-chefe da Time, afirmou à emissora NBC que Trump foi alguém que “para o bem ou para o mal, teve a maior influência nas notícias em 2024”. “É difícil argumentar contra o fato de que a pessoa que está se mudando para o Salão Oval é a pessoa mais influente nas notícias”, disse.

Jacobs contou que, embora sempre haja um debate acalorado na revista sobre quem deve ser a pessoa do ano da revista honra, “tenho que admitir que este ano foi uma decisão mais fácil do que nos anos anteriores”.

Trump também foi a Personalidade do Ano da Time em 2016, quando foi eleito pela primeira vez para a Casa Branca. Ele foi relacionado como finalista para este ano ao lado de figuras como a própria Kamala Harris, o bilionário Elon Musk, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu e a princesa de Gales, Kate Middleton, além da presidente mexicana Claudia Sheinbaum e da economista russa Yulia Navalnaya, viúva do falecido líder da oposição Alexei Navalny.

Trump sempre foi fascinado por estar na capa da Time, onde ele apareceu pela primeira vez em 1989. Ele falsamente alegou deter o recorde de aparições na capa, e o The Washington Post relatou em 2017 que o republicano tinha uma foto falsa de si mesmo na capa da revista pendurada em vários de seus clubes de golfe.

No início do ano, Trump concedeu entrevistas à revista para uma reportagem publicada em abril. O dono da Time, CEO da Salesforce Marc Benioff, criticou a vice-presidente Kamala Harris, por não conceder uma entrevista à publicação.

“Apesar de vários pedidos, a Time não recebeu uma entrevista com Kamala Harris, ao contrário de todos os outros candidatos presidenciais”, disse Benioff. “Acreditamos na transparência e publicamos cada entrevista na íntegra. Por que a vice-presidente não está se envolvendo como público no mesmo nível?”, questionou, em postagem no X.

A primeira vez que a revista escolheu uma Pessoa no Ano foi em 1927. No ano passado, a Personalidade de 2023 da revista foi a cantora Taylor Swift. Em 2022, o escolhido foi o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski.

Reeleito apesar dos processos

Em sua última entrevista publicada nesta quinta-feira, Trump reiterou que vai conceder perdão presidencial a maioria dos condenados pela invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021. “Vai começar na primeira hora”, disse ele sobre os perdões. “Talvez nos primeiros nove minutos.”

Depois que seus apoiadores invadiram o Capitólio na tentativa de reverter sua derrota eleitoral de 2020, parecia que os republicanos estariam prontos para se livrar do outsider que havia assumido o controle do partido.

Ele se tornou alvo de processos criminais por seus esforços para anular a eleição de 2020, e foi condenado em um tribunal civil em um caso de abuso sexual. Ele continua sendo uma figura polarizadora na política dos EUA e do mundo.

No entanto, nada disso o impediu de se candidatar novamente pelo Partido Republicano e derrotar Harris nas eleições.

Em novembro, a Justiça dos Estados Unidos anunciou o arquivamento de dois casos criminais federais que pairavam sobre Trump: o processo em que o presidente eleito é réu por tentar subverter asa eleições de 2020 e outro por suspeita de má gestão de documentos confidenciais após deixar a Casa Branca em seu primeiro mandato (2017-2021).

rc (AP, AFP)