Anúncio de mobilização de militares da reserva da Guarda Nacional ocorre após eclosão de protestos em Los Angeles contra operações para deportar migrantes. Convocação é criticada pelo governador democrata do estado.O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na noite de sábado (08/06) que ordenou a mobilização de 2.000 militares da Guarda Nacional para conter protestos que eclodiram em Los Angeles na esteira de uma série de operações de detenção de supostos migrantes irregulares.

A Casa Branca afirmou, em comunicado, que o envio da força militar da reserva é necessário para “lidar com a ilegalidade que foi permitida prosperar” na Califórnia. A medida, no entanto, não conta com o apoio do governo do estado.

De acordo com informações do jornal The New York Times, os militares da Guarda Nacional devem chegar ao condado de Los Angeles ainda neste domingo.

Mais cedo, o republicano Trump já havia ameaçado, por meio de uma publicação na sua rede social, Truth Social, “intervir” para reprimir os protestos registrados nos últimos dois dias em Los Angeles. Trump também criticou as autoridades democratas da Califórnia.

“Se o governador Gavin Newscum (forma usada por Trump para mesclar Newsom e “scum”, palavra que significa “escória” em inglês), da Califórnia, e a prefeita Karen Bass, de Los Angeles, não conseguem fazer seu trabalho, o que todos sabem que não conseguem, então o governo federal intervirá e resolverá o problema”, disse o presidente americano.

Já Stephen Miller, o vice-chefe de gabinete da Casa Branca, escreveu no X que os protestos foram “uma insurreição contra as leis e a soberania dos Estados Unidos”. No sábado, ele ainda classificou os protestos como uma “insurreição violenta”.

Protestos

As tensões na cidade eclodiram na sexta-feira, quando manifestantes entraram em confronto com forças policiais que conduziam batidas para que resultaram na detenção de 44 supostos imigrantes irregulares na área central de Los Angeles.

No sábado, membros do Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA (conhecido pela sigla ICE) estenderam as operações para o município vizinho de Paramount, uma área de grande concentração de imigrantes latinos, provocando ainda mais protestos. Imagens mostraram dezenas de agentes de segurança tentando dispersar os manifestantes com gás lacrimogênio.

Oposição demcorata

Por sua vez, o governador Newsom denunciou neste sábado a convocação da Guarda Nacional. Segundo ele, Trump federalizou parte da Guarda Nacional da Califórnia sob a chamada autoridade do Título 10, que coloca a Casa Branca, e não o governador, no topo da cadeia de comando.

“O governo federal está tomando o controle da Guarda Nacional da Califórnia e enviará 2 mil soldados”, disse Newsom, que acrescentou que não havia necessidade de enviar militares para o estado. “[O governo federal] não está fazendo isso por causa da escassez de forças policiais, mas porque deseja um espetáculo.”

A prefeita de Los Angeles também criticou as operações anti-imigração. “Estou profundamente indignada com o que está acontecendo”, disse a prefeita Bass. “Essas táticas semeiam o terror em nossas comunidades e desestabilizam os princípios básicos de segurança em nossa cidade. Não vamos tolerar isso.”

O ICE sob Trump, por sua vez, reclamou da reação da população do estado às operações anti-imigração. Já o FBI confirmou num comunicado a participação de seus agentes nas operações de imigração. Também foram vistos agentes com identificação da DEA, órgão federal de segurança encarregado da repressão e controle de narcóticos.

O Departamento de Segurança Interna (DHS), por sua vez. afirmou em comunicado que as recentes operações do ICE em Los Angeles resultaram na prisão de 118 supostos migrantes irregulares;

Nas últimas semanas, o governo dos EUA efetuou várias alterações no seio do ICE com o objetivo de promover mais detenções. O objetivo de Trump é efetuar, pelo menos, 3.000 detenções por dia.

Essa não é a primeira vez que Trump aciona a Guarda Nacional para reprimir protestos. Em 2020, ele pediu aos governadores de vários estados que enviassem tropas para Washington, D.C., para lidar com as manifestações que eclodiram depois que George Floyd foi morto por policiais de Minneapolis. Muitos governadores concordaram com o pedido, enviando tropas para o distrito federal dos EUA.

Jps (AP, Lusa, AFP, ots)