Em pleno confronto com o Pentágono e quando é acusado de politizar o exército, Donald Trump participa neste sábado (13) de uma cerimônia de graduação na prestigiada academia militar de West Point, próximo a Nova York.

O presidente americano, que gosta de ressaltar seu papel como comandante-chefe das Forças Armadas, deve fazer um discurso que será atentamente observado, depois que as principais autoridades do Pentágono afastaram-se publicamente do tom antipacifista que adotou diante das manifestações antirracistas e contra a violência policial nas últimas semanas.

O secretário da Defesa, Mark Esper, formado em West Point, discordou do presidente na semana passada ao declarar que não apoiaria a proposta de implementar o exército para reprimir os manifestantes.

“A opção de recorrer a soldados ativos deveria ser empregada somente como último recurso e em situações mais urgentes e dramáticas”, afirmou.

Na quinta-feira, o chefe do Estado-Maior, o general Mark Milley, lamentou ter aparecido em uniforme junto ao presidente depois de uma violenta dispersão de manifestantes próximo à Casa Branca.

“Não deveria ter estado lá”, comentou. “Deu a impressão de que o exército estava interferindo na política interna”.

As duas autoridades do Pentágono disseram também que são a favor de renomear as bases militares americanas que honram a memória de generais confederados, pró-escravistas, durante a Guerra da Secessão, uma ideia à qual Donald Trump se opôs categoricamente.

– “Não há problema” –

O presidente americano que, segundo alguns meios considerou por um tempo demitir Mark Esper, apareceu na sexta-feira ansioso para esfriar suas relações com o Pentágono.

“Tenho uma boa relação com os militares”, disse à Fox News. “Se isso é o que pensam, não há problema”.

Trump, que nunca prestou serviço militar, está acostumado a abordar os militares durante suas viagens ao exterior. Não hesitou em incitar soldados a vaiar jornalistas que cobriam algum evento, evidenciando o apoio que desfruta em setores das forças armadas.

Analistas consideram muito provável que seu discurso em West Point, uma academia que formou vários líderes militares e governantes dos EUA, adquira um tom político.

Adiantando-se, ex-alunos da academia divulgaram uma carta aberta alertando os jovens graduandos contra qualquer “obediência cega” e destacando os perigos impostos pelos “tiranos”.

“A politização das forças armadas enfraquece o vínculo entre o exército e a sociedade americana”, afirmam os 400 ex-alunos de diferentes gerações que alegam ter servido, entre todos, a dez governos diferentes. “Se este vínculo for rompido, os danos ao nosso país seriam incalculáveis”.

Trump já havia anunciado em abril que participaria da entrega de diplomas em West Point, localizada a 100 km de Nova York, epicentro da pandemia de COVID-19 nos EUA.

Os organizadores tiveram que modificar a cerimônia para respeitar o distanciamento social o máximo possível. Neste ano, pela primeira vez, as famílias dos 1.100 formandos, entre eles 229 mulheres, não foram convidadas para participar do evento.