15/11/2025 - 10:13
Chefe do Departamento de Justiça dos EUA disse que abrirá investigação sobre laços entre o criminoso sexual e ex-presidente. Medida é anunciada após revelação de e-mails envolvendo Trump em escândalo sexual.O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ordenou a investigação de laços do criminoso sexual Jeffrey Epstein com seus adversários políticos, incluindo o ex-presidente Bill Clinton. O anúncio vem dias depois da revelação de e-mails envolvendo o próprio Trump com o escândalo de pedofilia do financista nova-iorquino.
A procuradora-geral dos EUA, Pam Bondi, afirmou nesta sexta-feira (14/11) – em uma postagem na rede X, em resposta a uma exigência de Trump – que designou o procurador federal de Manhattan, Jay Clayton, para liderar a investigação, encerrando uma semana agitada em que republicanos no Congresso revelaram quase 23 mil páginas de documentos do espólio de Epstein e democratas da Câmara se apropriaram de e-mails que mencionavam Trump.
“Como em todos os assuntos, o departamento tratará disso com urgência e integridade para dar respostas ao povo americano”, publicou Bondi, sem fornecer informações específicas.
Trump, que foi amigo de Epstein por anos, não explicou quais supostos crimes ele queria que o Departamento de Justiça investigasse. Nenhum dos homens que ele mencionou em uma postagem nas redes sociais exigindo a investigação foi acusado de má conduta sexual por qualquer uma das vítimas de Epstein.
Horas antes do anúncio de Bondi, Trump havia publicado em sua plataforma Truth Social que pediria a ela, ao Departamento de Justiça e ao FBI que investigassem o “envolvimento e relacionamento” de Epstein com Clinton e outros, incluindo o ex-secretário do Tesouro Larry Summers e o fundador do LinkedIn e doador democrata Reid Hoffman.
“Farsa de Epstein”
Trump, chamando o assunto de “a farsa de Epstein, envolvendo democratas, não republicanos”, disse que a investigação também deveria incluir o gigante financeiro JPMorgan Chase, que forneceu serviços bancários a Epstein, e “muitas outras pessoas e instituições”.
“Esta é mais uma farsa da Rússia, Rússia, Rússia, com todas as flechas apontando para os democratas”, escreveu o presidente republicano, referindo-se à investigação do procurador especial Robert Mueller sobre a suposta interferência russa na vitória eleitoral de Trump em 2016 sobre a esposa de Bill Clinton, a ex-secretária de Estado Hillary Clinton.
Questionado na sexta-feira se deveria ordenar tais investigações, Trump disse a repórteres a bordo do Air Force One: “Eu sou o chefe da polícia do país. Tenho permissão para fazer isso.”
Em um memorando de julho sobre a investigação de Epstein, o FBI afirmou: “Não descobrimos evidências que pudessem fundamentar uma investigação contra terceiros não acusados.”
Desvio de atenção
A exigência do presidente por uma investigação – e a rápida aquiescência de Bondi – é o exemplo mais recente da erosão da tradicional independência do Departamento de Justiça em relação à Casa Branca desde que Trump assumiu o cargo.
É também uma tentativa extraordinária de desviar a atenção. Por décadas, o próprio Trump tem sido alvo de escrutínio por sua proximidade com Epstein – embora, assim como as pessoas que ele agora quer que sejam investigadas, ele não tenha sido acusado de má conduta sexual pelas vítimas de Epstein. Nenhum dos alvos propostos por Trump foi acusado de crimes sexuais.
Uma porta-voz do JPMorgan Chase, Patricia Wexler, disse que a empresa lamentava a associação com Epstein, “mas não o ajudou a cometer seus atos hediondos”.
“O governo tinha informações condenatórias sobre seus crimes e não as compartilhou conosco ou com outros bancos”, disse ela. A empresa concordou anteriormente em pagar milhões de dólares às vítimas de Epstein, que processaram o banco alegando que ele ignorou sinais de alerta sobre atividades criminosas.
Viagem no jato de Epstein
Clinton admitiu ter viajado no jato particular de Epstein, mas disse, por meio de um porta-voz, que não tinha conhecimento dos crimes do falecido financista. Ele também nunca foi acusado de má conduta pelas vítimas conhecidas de Epstein.
O chefe de gabinete adjunto de Clinton, Angel Ureña, publicou na sexta-feira: “Esses e-mails provam que Bill Clinton não fez nada e não sabia de nada. O resto é ruído para distrair das derrotas eleitorais, das paralisações desastrosas e sabe-se lá mais o quê.”
Epstein se declarou culpado na Flórida em 2008 por aliciar uma menor de idade para prostituição, mas foi poupado de uma longa pena de prisão quando o procurador dos EUA na Flórida concordou em não processá-lo pelas alegações de que ele havia pago muitas outras crianças por atos sexuais.
Depois de cumprir cerca de um ano de prisão e um programa de trabalho externo, Epstein retomou sua vida social e profissional até que promotores federais em Nova York reabriram o caso em 2019. Epstein morreu na cadeia enquanto aguardava julgamento por acusações de tráfico sexual. A conclusão oficial sobre a causa da morte foi suicídio.
Summers e Hoffman não tinham nada a ver com nenhum dos casos, mas ambos eram amigos de Epstein e trocaram e-mails com ele. Essas mensagens estavam entre os documentos divulgados esta semana, juntamente com outras correspondências que Epstein teve com amigos e sócios nos anos anteriores à sua morte.
Nada nas mensagens sugeria qualquer irregularidade por parte dos homens, além de se associarem a alguém que havia sido acusado de crimes sexuais contra crianças. Summers, que fez parte do gabinete de Clinton e é ex-presidente da Universidade de Harvard, afirmou anteriormente em um comunicado que tem “grandes arrependimentos em minha vida” e que “minha associação com Jeffrey Epstein foi um grande erro de julgamento”.
Na sexta-feira à noite, nas redes sociais, Hoffman pediu que Trump divulgasse todos os arquivos de Epstein, dizendo que eles mostrarão que “os pedidos por investigações infundadas contra mim não passam de perseguição política e difamação”. Ele acrescentou: “Eu nunca fui cliente de Epstein e nunca tive qualquer envolvimento com ele além de arrecadar fundos para o MIT”.
md (AP, DPA)
