17/02/2021 - 19:01
Insistindo que ganhou a eleição e protestando contra os críticos em seu próprio partido, o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump busca permanecer no centro das atenções da política. Mas seu sucessor, Joe Biden, está determinado a virar a página e deixar o rival para trás.
“Estou cansado de falar sobre Donald Trump, não quero mais falar sobre ele”, disse Biden durante um encontro com eleitores organizado em Wisconsin (norte) pela CNN na noite de terça-feira.
Trump, porém, luta para permanecer no centro do debate.
Desde que deixou relutantemente a Casa Branca em 20 de janeiro para dar lugar ao democrata Biden, o republicano se viu distanciado do debate político.
Esse silêncio pareceu ensurdecedor, depois de Trump passar quatro anos sob os holofotes em Washington, inundando o mundo com suas opiniões sobre tudo, desde relações exteriores ao golfe, passando pela televisão matinal.
No entanto, nesta quarta-feira o ex-presidente voltou ao ringue para comentar a morte do radialista de direita Rush Limbaugh na Fox News, onde reiterou a falsa alegação de que a fraude eleitoral roubou sua vitória na eleição de 3 de novembro.
“Rush achou que ganhamos e eu também, por falar nisso. Acho que ganhamos substancialmente”, disse Trump, acrescentando como o país está “furioso” com a suposta fraude, que nenhum tribunal confirmou.
Na terça-feira, Trump aflorou os ânimos em Washington ao lançar um ataque contra o senador Mitch McConnell, o republicano de mais alto escalão no Congresso.
O pecado de McConnell? Ter desacreditado Trump em um discurso depois de ter votado pela absolvição do ex-presidente no julgamento de impeachment do último sábado passado.
McConnell não se juntou aos sete republicanos rebeldes que votaram com os democratas para condenar Trump por incitar uma insurreição no Capitólio em 6 de janeiro.
O experiente senador seguiu a linha do partido e, ao fazê-lo, provavelmente limitou que outros colegas se unissem aos democratas na votação.
Mas, uma vez cumprido seu dever para com Trump e o partido republicano, McConnell repreendeu o magnata por uma “renúncia vergonhosa de seus deveres”, sublinhando que a multidão que atacou o Capitólio “carregava cartazes homenageando Trump e clamando lealdade a ele”.
A resposta de Trump foi dura: “Mitch é um político severo, ranzinza e não muito sorridente”, disse o ex-presidente em um comunicado da Flórida (sudeste), onde reside, garantindo que “se os senadores republicanos ficarem com ele, não vencerão novamente”.
– O “cara anterior” –
Desde a vitória eleitoral convincente de Biden em novembro, muitos se perguntavam como o presidente eleito lidaria com o espectro de um Trump vingativo.
Normalmente, ex-presidentes desaparecem graciosamente em segundo plano, mas Trump é diferente.
“Por quatro anos, tudo que era manchete vinha de Trump. Nos próximos quatro anos, quero ter certeza de que todas as notícias são sobre o povo americano”, afirmou Biden no encontro com eleitores transmitido pela CNN.
Durante todo o evento, Biden se limitou a promover um gigantesco pacote de estímulo econômico de US$ 1,9 trilhão e a campanha de vacinação contra a covid-19.
É a mesma linha que seguiu durante o dramático julgamento de impeachment da semana passada e, na verdade, desde que assumiu a Casa Branca.
As referências sobre Trump foram marcadas pela indiferença, inclusive chamando-o de “o cara anterior”.
Atualmente, a perspectiva política parece mais favorável para Biden do que para Trump.
As pesquisas mostram consistentemente um amplo apoio da população aos planos de ajuda financeira de Biden, bem como ao seu desempenho no início do mandato. Em contraste, Trump tem índices de aprovação nacionais desanimadores, embora tenha forte apoio dos republicanos mais conservadores.
E sua ameaça de fazer campanha contra qualquer republicano que lhe negue apoio incondicional lança uma sombra sobre a luta do partido pelo controle do legislativo nas eleições de meio de mandato de 2022.
“Mitch McConnell, trabalhando com Donald Trump, fez um ótimo trabalho. Agora eles estão se enforcando. Estou mais preocupada com 2022 do que nunca”, afirmou a senadora Lindsey Graham, leal a Trump, à Fox News.
“Não quero que nos devoremos”, continuou.