16/09/2016 - 22:47
O candidato republicano Donald Trump deu, nesta sexta-feira (16), um passo para se distanciar da interminável polêmica sobre a nacionalidade do presidente Barack Obama, uma controvérsia que manteve viva durante anos e que lhe valeu acusações de racismo.
“O presidente Obama nasceu nos Estados Unidos. Ponto final”, declarou Trump em um breve discurso em Nova York, no qual acusou sua adversária na corrida presidencial, a democrata Hillary Clinton, de ser a origem dessa polêmica.
De acordo com Trump, Hillary iniciou a controvérsia em 2008, quando ela tentava ser a candidata do Partido Democrata à Presidência, apesar de ter perdido a disputa interna para Obama.
Hillary “começou a controvérsia. Eu acabei com ela, se entendem o que quero dizer”, declarou.
De qualquer forma, Trump foi durante pelo menos cinco anos uma das mais raivosas vozes da interminável polêmica segundo a qual Obama não nasceu nos Estados Unidos, portanto não poderia ter sido eleito presidente.
Obama nasceu em 4 de agosto de 1962 em Honolulu, no Havaí, e começou sua carreira no estado de Illinois. A divulgação de sua certidão de nascimento, em 2011, não conseguiu pôr um ponto final na polêmica.
Na época, Trump chegou a se vangloriar por ter “forçado” Obama a apresentar o documento, mas, em janeiro passado, ainda não mostrava estar seguro de sua autenticidade.
O movimento “Birther” esteve desde o início estreitamente ligado aos setores mais conservadores do eleitorado, os quais, desde o final do ano passado, encontraram em Trump uma expressão política. Desde então, tanto Trump quanto os seguidores do movimento “Birther” ficaram expostos a acusações de estarem motivados por racismo.
Em seu discurso desta sexta-feira (16), Trump claramente marcou distância dessa corrente de opinião. Ainda não está claro o efeito que esse passo terá nas pesquisas de intenção de voto.
Trump já se encontrava sob forte pressão há várias semanas para que fosse mais específico sobre sua posição no tema. As pressões se multiplicaram depois que seu companheiro de chapa presidencial, Mike Pence, usou uma notável ginástica oratória durante uma entrevista para evitar condenar o apoio à candidatura de Trump por parte de um líder do grupo racista Ku Klux Klan (KKK).
As pressões sobre Trump nessa questão e a expectativa com o discurso fizeram as grandes redes americanas de televisão transmitir ao vivo o pronunciamento do candidato desta sexta-feira.
Pouco antes do discurso, o próprio Obama comentou a polêmica no Salão Oval, nesta sexta, sem esconder a ironia.
“Eu sempre estive muito seguro a respeito do lugar onde nasci. E penso que a maioria dos americanos também”, disse Obama, que declarou se sentir surpreso “que um assunto desse tipo apareça quando temos tanto o que fazer”.
A primeira-dama americana, Michelle Obama, lembrou hoje que os eleitores têm, em 8 de novembro, uma opção clara entre Hillary e um candidato que “faz tráfico de preconceitos, medo e mentiras”.
Obama – frisou Michelle – sempre respondeu a esse movimento, “mantendo o nível mais alto, quando outros descem cada vez mais baixo”, e apontou que os eleitores devem fazer o mesmo.
Durante uma reunião com mulheres negras em Washington, Hillary disse na manhã de hoje que “o presidente Obama nasceu nos Estados Unidos, é tão simples quanto isso. Acredito que o sr. Trump lhe deva um pedido de desculpas”.
Em nota, o comitê de campanha de Hillary considerou que as declarações de Trump nesta sexta-feira foram “uma vergonha”.
“Depois de cinco anos apoiando uma teoria conspiratória racista na discussão política, foi terrível ver Trump se apresentar como o juiz sobre se o presidente dos Estados Unidos é, ou não é, americano”, declarou sua equipe de campanha.
Já o Comitê Nacional do Partido Democrata afirmou em nota que Trump “teve a audácia de lançar uma nova mentira sobre a origem do movimento”, ao atribuir sua origem a Hillary.
Trump “não pode se separar dessa mentira racista apenas com um gesto dos ombros”, declarou a direção partidária.