06/11/2024 - 11:48
Com a vitória do republicado Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, os preços confirmam o que o mercado vem chamando de ‘Trump Trade’ – implicando em um dólar mais forte e um mercado enxergando juros altos por mais tempo.
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No caso do câmbio, com a vitória de Trump, o dólar chegou a R$ 5,86 por volta das 10h30, com uma valorização de quase 2% no intradia. Depois, a moeda recuou e é negociada no início da tarde no patamar abaixo de R$ 5,80, conforme a Reuters.
O dia também é de valorização da bolsa de valores de Nova York. Em Wall Street, o S&P 500 avança 1,2% ao passo que o Dow Jones sobe 1%.
“A apreciação do dólar frente ao real se deve, na maior parte, às expectativas de maiores juros na gestão Trump, especialmente pelo lado fiscal expansionista de seu governo, com os ambiciosos cortes de impostos. O plano de Trump tem um viés bastante inflacionário, que deve ser combatido com maiores taxas de juros, aumentando a atratividade do dólar e dos ativos norte-americanos frente aos pares emergentes”, explica José Alfaix, economista da Rio Bravo.
O especialista ainda acrescenta que as políticas protecionistas, a expulsão dos imigrantes ilegais e os cortes significativos de impostos devem trazer maiores pressões nos preços ao longo do mandato.
Essa tese ganha ainda mais força em um contexto em que a apuração dos votos nas eleições americanas sinalizam também um Congresso de maioria republicana – o que daria mais folga para Trump aprovar suas medidas.
Luiz Arthur Fioreze, diretor de Gestão de Fundos da Oryx Capital, explica que no mercado de câmbio, o dólar já vinha se valorizando e deve continuar nesse movimento.
“Esse cenário fortalece o dólar e traz consequências tanto para o mercado global quanto para as economias emergentes, que podem enfrentar pressões sobre suas moedas e taxas de juros. A expectativa entre gestores é de que o S&P 500 continue a renovar suas máximas, apoiado pelo cenário de crescimento econômico e pela possibilidade de cortes nas taxas de juros nos EUA”
Mercado aguarda novas sinalizações
Com a eleição de Trump, Oliver Blackbourn, gerente de portfólio de Multi-Asset da Janus Henderson, comenta que agora os mercados começam a pensar em como a retórica se traduz em política, com cada pronunciamento nos próximos meses sendo analisado.
“Com a opinião geral de que ambos os partidos continuarão a administrar déficits orçamentários, parece provável que a economia dos EUA permaneça atrelada ao alto crescimento do estímulo fiscal. O efeito que isso terá sobre o Federal Reserve pode levar algum tempo para ficar claro, já que o Fomc relutará em levar qualquer coisa em consideração até que haja maior clareza na política”, analisa.
O especialista destaca também que os mercados precisarão aguardar para ver se o Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, está disposto e é capaz de resistir a uma economia aquecida.
“A economia dos EUA tem apresentado um forte desempenho, conforme demonstrado pelo crescimento anualizado de 2,8% no terceiro trimestre, e uma série contínua de surpresas positivas nos dados. Entretanto, com a perspectiva de menos cortes nas taxas de juros, com os mercados de títulos já preocupados com a montanha de dívidas dos EUA e com o aumento dos rendimentos de longo prazo do Tesouro”.
Bitcoin e Tesla sobem com Trump
A vitória do republicano também é uma pressão altista para o bitcoin e outras criptomoedas, dado que Trump sinalizou que pretende tornar os Estados Unidos um hub de criptos.
Além disso, as ações da Tesla avançavam 12% nas negociações que precedem a abertura de mercado (premarket) nos EUA – em um contexto que Elon Musk foi o maior financiador da campanha de Trump, com US$ 130 milhões.
A expectativa é de que Musk colha benefícios após isso.
“O maior benefício de uma eventual vitória de Trump seria para a Tesla e Elon Musk”, afirma o analista Daniel Ives, da Wedbush Securities.
A tese é de que a montadora de Musk teria vantagens competitivas com mudanças dos estímulos fiscais para carros elétricos.
Impacto para o Brasil
Jefferson Laatus, chefe-estrategista do Grupo Laatus, destaca que por conta do apoio do Planalto à candidata democrata Kamala Harris, o Brasil deve ter uma perspectiva mais negativa com o resultado do pleito.
“O Brasil sempre foi diplomaticamente mais neutro, mas o Lula dessa vez decidiu declarar apoio à Kamala Harris, isso não é bom, ainda mais com o tipo de vitória de Donald Trump. Além disso, a vitória de Trump também é ruim para China e países emergentes. A vitória de Donald Trump significa basicamente: bolsa de valores, dólar e juros para cima, e o fato de termos o fiscal ainda sem decisões também é ruim e prejudica ainda mais o Brasil nesse cenário”.
Hugo Garbe, professor de Ciências Econômicas do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas (CCSA) da Universidade Presbiteriana Mackenzie, explica que em seu primeiro mandato, o republicano adotou uma postura isolacionista, rompendo acordos comerciais multilaterais e impondo tarifas a parceiros estratégicos.
“Agora, o mercado teme que o retorno de uma política comercial protecionista possa intensificar as tensões com economias emergentes, impactando diretamente países como o Brasil, que têm uma dependência significativa das exportações agrícolas e de commodities”.
Errata: Uma primeira versão desse texto citava que o dólar chegou a ser cotada a R$ 6,10, batendo máxima histórica. A informação foi corrigida.