10/01/2019 - 12:53
O presidente Donald Trump viaja nesta quinta-feira (10) para a fronteira dos Estados Unidos com o México para defender seu projeto de muro, um dia depois de abandonar negociações para pôr fim ao “shutdown” federal com líderes democratas, contrários a financiar a construção da barreira ao sul.
Foi como “uma total perda de tempo” que Trump descreveu no Twitter sua reunião com a líder da Câmara de Representantes, Nancy Pelosi, e com o líder da minoria democrata no Senado, Chuck Schumer.
As discussões em torno do financiamento do muro e do “shutdown” endureceram nos últimos dias.
“O presidente simplesmente se levantou e foi embora”, relatou Schumer, na saída da reunião de quarta-feira.
Os representantes democratas foram à Casa Branca um dia depois de Trump recorrer a um discurso em tom dramático para tentar convencer a opinião pública sobre a necessidade de obter 5,7 bilhões de dólares para erguer uma barreira de aço na fronteira.
Enquanto as duas partes discutem sobre quem tem culpa pelo fracasso do encontro, cerca de 800.000 funcionários federais – muitos em uma involuntária licença não remunerada – esperam a resolução do conflito que se arrasta de 22 de dezembro pela falta de aprovação do orçamento no Congresso.
E, na fronteira ao sul, trabalhadores humanitários têm uma mensagem para Trump: as coisas não são como o presidente diz, e as pessoas que cruzam o limite com os Estados Unidos não são, em sua maioria, assassinos e traficantes.
“A verdade é que um grande percentual das pessoas que entram no país, que pedem para entrar no país, não é de criminosos. São famílias, crianças, mães, que realmente pedem proteção”, afirma a irmã Norma Pimentel, do Centro católico de ajuda humanitária em McAllen, no Texas.
– Danos colaterais –
Em Washington, na reunião de ontem, o presidente perguntou aos democratas, se aprovariam os recursos para o muro em troca do fim do “shutdown”. E a resposta de Pelosi foi: “Não, para nada”, contou o congressista republicano Kevin McCarthy, que acompanhou o encontro.
A queda de braço pelo muro, uma das principais promessas de campanha de Trump, acontece em meio à mudança de ciclo político nos Estados Unidos, depois de os democratas recuperarem, na semana passada, o controle da Câmara de Representantes. Já os republicanos continuam mantendo maioria no Senado.
Trump ameaçou, porém, declarar estado de emergência nacional, o que abriria caminho para que ele pudesse adotar medidas extraordinárias.
“Acredito que podemos trabalhar em um acordo e, se não, podemos tomar esse caminho”, disse ele.
Apesar das advertências de que estaria extrapolando as prerrogativas da figura presidencial, Trump insiste em que tem o “direito absoluto” de usar essa ferramenta, pensada para um estado de catástrofe nacional, como no caso de uma epidemia, ou um ataque ao território.
Para a oposição, a proposta do muro é “imoral”, além de cara e ineficaz.
A ideia da viagem de Trump hoje até a fronteira é “se reunir com aqueles que estão na linha de frente”.
“Quanto sangue mais de americanos precisa ser derramado até que o Congresso faça seu trabalho? Para aqueles que se negam a um acordo em nome da segurança na fronteira, eu lhes peço que imaginem se fosse seu filho, seu marido, ou sua mulher, cuja vida foi totalmente destruída”, afirmou o presidente.
Pelosi rebateu a ideia e disse que o verdadeiro problema está “nas políticas cruéis e contraproducentes” que tornaram a fronteira mais perigosa para os migrantes vulneráveis, incluindo as famílias.
Em dezembro, dois meninos migrantes guatemaltecos sob custódia do Serviço de Vigilância Fronteiriça morreram, o que gerou uma indignação generalizada. O Departamento de Segurança Interna (DHS, na sigla em inglês) se viu forçado a tomar medidas extras de proteção.
O “shutdown” atual está perto de se tornar o mais longo da história, batendo o recorde de 21 dias ocorrido entre o fim de 1995 e o início de 1996, no governo Bill Clinton.