28/06/2013 - 6:08
Em momentos de crise, como o atual, quem tem dinheiro tem medo. Parece que uma tempestade perfeita tomou conta dos mercados: as ações derretem, os juros perdem a corrida contra a inflação e o dólar não para de subir. De janeiro a julho, o Índice Bovespa caiu 22%, o pior desempenho em um primeiro semestre desde o início do Plano Real. Em média, o prejuízo real dos fundos de renda fixa foi de 0,9%. A moeda americana subiu cerca de 7%. Como enfrentar esse mar revolto e conduzir seu dinheiro a um porto seguro? DINHEIRO consultou alguns dos mais experientes profissionais do mercado brasileiro para saber o que é preciso para lucrar enquanto a bonança não vem. Entre os tubarões, falamos com os bilionários Lírio Parisotto e Luiz Barsi e com o gestor Dório Ferman, do Banco Opportunity. Para nadar com eles, desça a página..
A primeira e mais importante recomendação ? vale a pena ouvir de novo ? é não perder a calma. O catarinense Parisotto, uma das maiores fortunas individuais na Bolsa, resume em uma palavra o que está fazendo com seus papéis neste momento de alta volatilidade: ?Nada.? Mas nada mesmo? ?Não estou nem olhando os preços, para não ficar nervoso?, insiste. Com cerca de R$ 1,3 bilhão em ações investido por meio de um fundo que administra na corretora Geração, Parisotto diz que é hora de o investidor pensar muito antes de agir. ?Não é possível prever com certeza qual será a direção do mercado e, por isso, não estou movimentando minha carteira de ações.?
Conhecido por uma abordagem cautelosa ? aprendida à custa de muitos prejuízos ? Parisotto diz que, agora, o melhor conselho é esperar. Para o paulista Luiz Barsi, outro bilionário que amealhou fortuna procurando bons negócios no pregão, é hora de mergulhar em busca de pechinchas preciosas. Algumas blue chips como Banco do Brasil, Petrobras, Vale e Eletrobrás, estão sendo negociadas abaixo do valor patrimonial que representam, lembra ele. ?A hidrelétrica de Belo Monte vai custar R$ 32 bilhões, mas o valor de mercado da Eletrobrás, que é a dona da obra, está em R$ 7 bilhões. Com certeza, há algo errado?, diz ele. Pode ser. Mas toda pescaria em alto-mar envolve riscos muito altos e, para enfrentá-los, é preciso ter estômago forte e bastante tempo à disposição.
Luiz Barsi, empresário e investidor: “Ações como Vale e Eletrobras
estão sendo negociadas abaixo do valor patrimonial”
A segunda recomendação é evitar agir por impulso, mas definir uma estratégia de investimentos e buscar as melhores oportunidades no mercado conforme o cenário da economia e da empresa. Embora Barsi alerte para os preços baixos das ações de primeira linha, esses papéis têm uma característica que os vêm tornando mais arriscados. Por serem mais negociados, são os preferidos dos investidores estrangeiros, e, portanto, os mais sujeitos a oscilações em função das mudanças de humor no mercado internacional. Por isso, uma das alternativas é buscar ações de empresas menores, conhecidas como small caps.
Menos negociadas e mais distantes das preferências dos investidores internacionais, as small caps permitem investir em boas empresas. Não por acaso, os gestores de fundos que investem nesses papéis vêm apresentando os melhores resultados. O fundo de ações mais rentável em 12 meses findos no dia 19 de junho foi o Equitas Selection, da gestora paulista Equitas. Segundo uma pesquisa da empresa de informações de mercado Economática, ele acumulou um ganho de 33,3% nesse período, investindo nesses papéis de empresas menores. Nomes como Cielo, Multiplus, Lojas Marisa e Technos constavam da carteira no início do ano. É bom, portanto, abrir o olho para os peixes pequenos da bolsa.
Lírio Parisotto, empresário e investidor: “Não estou nem olhando
as cotações, para não ficar nervoso”
Para Luís Felipe Teixeira do Amaral, sócio-diretor da Equitas, a turbulência recente na bolsa, explicada pela fuga dos investidores estrangeiros, não quer dizer que as oportunidades deixaram de existir. ?A redução do ritmo de crescimento da economia e a aceleração da inflação devem corroer o poder de compra dos consumidores de renda mais baixa, o que, no curto prazo, vai tornar mais difícil investir nas empresas voltadas para o consumo?, diz Amaral. ?No entanto?, diz ele, ?quando se considera um prazo mais longo, as principais oportunidades de investimento ainda estão nas companhias voltadas para o mercado doméstico.?
É hora de procurar ações baratas? Segundo o experiente Ferman, as perspectivas para o futuro próximo são de grande turbulência. Mesmo assim, avalia, os prognósticos são positivos. ?Em todo o mundo, as bolsas foram afetadas pela alta dos juros nos Estados Unidos, que subiram de 1,70% ao ano para 2,60% em poucas semanas?, diz Ferman. ?Isso provocou uma reacomodação de preços que ainda não se encerrou.? Para ele, quando esse processo acabar, haverá espaço para ganhar dinheiro na bolsa. ?O cenário ficará mais adverso, pois o capital será menos abundante, mas os fundamentos vão continuar positivos?, avalia.
Outros gestores têm a mesma opinião. O paulista Werner Roger, sócio da gestora Victoire Brasil, já passou por várias crises e viu pessoas construírem fortunas por saberem manter o sangue frio nas horas em que o mar fica encapelado. Seu fundo, o Victoire Small Cap, que também se dedica a empresas menores e menos líquidas, rendeu 31,6% nos 12 meses findos em maio. Para ele, boas recomendações são ações, como a encarroçadora de ônibus Marcopolo e a produtora de etanol e açúcar São Martinho. A Alpargatas é outra empresa no radar da gestora. A fabricante das Havaianas deve exportar 100 milhões de pares de chinelos. ?A empresa recebe mais dólares e ganha no custo da borracha, cujo preço caiu por conta da menor demanda da China.?