23/04/2008 - 7:00
O PRESIDENTE DA PHILIPS PARA A América Latina, Paulo Zottolo, não consegue esconder a satisfação típica das pessoas que deram a volta por cima. Em agosto do ano passado, tornou-se conhecido no País por um motivo pouco nobre. Afirmou, em uma entrevista, que ninguém ficaria chateado se o Piauí deixasse de existir. A frase fez estragos. Durante dias, seu nome foi execrado na imprensa, blogueiros o atacaram e lojas piauienses de eletrodomésticos ameaçaram boicotar a empresa. Passados oito meses, na tarde da quarta-feira 16, o presidente olha para o horizonte no terraço contíguo à sua sala, na sede da companhia, zona sul de São Paulo. ?Como o tempo está bom?, diz, sem perceber que a imagem cabe à perfeição para ilustrar o período que acaba de viver. O inferno cinza dos meses anteriores deu lugar a um cenário azul. Há poucas horas, a Philips divulgou seus resultados no primeiro trimestre de 2008. No mundo, as receitas da empresa evoluíram 0,5%, passando de ? 5,93 bilhões para ? 5,96 bilhões. Na América Latina, que ele dirige a partir do Brasil, 12%, de ? 367 milhões para ? 412 milhões. Nenhuma região do planeta cresceu tanto. Enquanto por aqui a participação da Philips no setor de televisores dobra, nos Estados Unidos a empresa anunciou recentemente que desistiu desse mercado.
Os resultados da América Latina devem ser creditados em parte ao crescimento econômico da região. O Brasil, principal mercado da Philips no continente, é quem mais tem impulsionado a empresa. ?O País como um todo vive um momento de expansão, e isso ajuda muito?, diz Zottolo. Se há uma lição que ele aprendeu com o episódio da Philips, é a importância da humildade. Zottolo evita atribuir a si mesmo o desempenho favorável. ?Quando mais prepotente você for como CEO, mais chance tem de errar.? Mas ele acertou em muitos aspectos. Assim que assumiu a empresa, em abril de 2007, traçou como objetivo reforçar a imagem da Philips. Lançou campanhas agressivas na tevê, contratou Ivete Sangalo como garota-propaganda e trouxe Nizan Guanaes, que passou a comandar a publicidade da Philips em meados do ano passado, para dar palestras a seus funcionários. O tema? O valor da marca para as empresas. Para recuperar terreno no mercado de televisores, Zottolo adotou a tática do corpo-a-corpo. Funcionários da Philips foram designados para percorrer os principais pontos-de-venda com o objetivo de avaliar a melhor maneira de expor o produto.
Ele também realizou mudanças internas. Reformou um andar da sede para a diretoria e fez com que as salas fossem ?transparentes?. As divisórias de vidro permitem que uma pessoa do lado de fora veja o que o funcionário está fazendo. A própria sala da presidência é assim. No ano passado, criou um departamento de novos negócios. Foi daí que surgiram os notebooks fabricados pela Philips no Brasil, a primeira incursão da empresa na área de computadores. A dificuldade não foi fazer o equipamento. Foi convencer a matriz a respeito da viabilidade da idéia. Com seu jeitão atrevido, Zottolo conseguiu dobrar os holandeses. A importância da América Latina poderá ser observada a partir desta semana. Começa, numa tenda instalada embaixo da ponte estaida da Marginal Pinheiros, em São Paulo, o ?Simplicity?, evento da Philips que percorre o mundo com soluções de tecnologia. É a primeira vez que a exposição acontece na América Latina. Lá, os visitantes vão observar inovações, como uma tela de cristal líquido que pode ser acoplada à geladeira e enviar mensagens como um e-mail. Zottolo empolga-se ao falar das novidades. O Piauí é mesmo coisa do passado.