13/10/2022 - 4:24
Em seu novo espaço de “coworking” em Chelyabinsk, uma cidade no centro da Rússia, o empresário Maxim Novikov conta as mesas vazias desde o anúncio de uma mobilização militar.
O escritório geralmente está cheio de designers, programadores e jovens russos que trabalham em seus empreendimentos.
Mas desde que o presidente Vladimir Putin anunciou em setembro a mobilização de centenas de milhares de jovens russos, Novikov, de 33 anos, perdeu grande parte de sua clientela.
“Muitos pararam de vir”, disse ele à AFP por telefone.
Alguns se juntaram às fileiras esgotadas do exército russo ou estão entre as dezenas de milhares que fugiram para o vizinho Cazaquistão.
A mobilização do Kremlin criou incerteza e caos para empresas já atingidas por sanções e afetadas pelo impacto da pandemia.
Nas últimas três semanas, pouco mais da metade das 77 vagas no escritório de coworking de Novikov foram preenchidas. Ele não sabe se as pessoas que fugiram ou foram recrutadas ainda vão pagar as taxas de inscrição que contrataram.
– Medo de investir –
Mas ele não é o único empresário na Rússia que está nervoso com a ausência da força de trabalho.
“Isso significa que há projetos que estão paralisados e que as empresas privadas terão medo de investir”, comentou Natalia Zuberevich, economista da Universidade Estatal de Moscou.
A economia russa foi atingida este ano por sanções ocidentais sem precedentes em resposta à decisão de Putin de enviar tropas à Ucrânia em 24 de fevereiro.
Mas Zuberevich apontou que a mobilização é um “fator agravante adicional”.
Acrescentou que não se surpreende que os jovens das províncias ingressem no Exército, atraídos por pagamentos mensais que às vezes equivalem aos seus salários anuais.
Enquanto isso, no pomposo centro de Moscou, Yelena Irisova, de 45 anos, fica chocada ao ver como sua empresa de bolsas de couro de luxo suspendeu a produção.
Ela tinha 10 funcionários em seu pequeno negócio, mas dois de seus artesãos deixaram a empresa nas últimas semanas, um por medo de ser mobilizado e outro para ajudar a filha, cujo marido foi enviado para o front.
“Depois de 21 de setembro, tudo desmoronou”, lamentou Irisova. “Nossas vendas caíram um terço, de 10 para três pedidos por dia”. Suas economias vão ajudá-la a continuar com a loja por “um mês ou dois, mas não mais que isso”.
Diante disso, empregadores preocupados pediram ao governo que conceda isenções à mobilização, principalmente para pequenas e médias empresas.
O Ministério do Desenvolvimento Econômico da Rússia disse à AFP que elaborou uma lista de medidas para lidar com a situação e concedeu doações e microcréditos.
“Um empresário mobilizado pode suspender o cumprimento de suas obrigações” para pagar seus empréstimos, segundo o ministério.
A analista Sofya Donets, economista-chefe para a Rússia na Renaissance Capital, espera “mais intervenção e ajuda estatal” para mitigar os efeitos da mobilização. Especialmente porque os cofres russos continuam cheios, graças às suas exportações de energia.