12/05/2023 - 6:57
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, disputará no domingo (14) a eleição mais acirrada desde que chegou ao poder, ao enfrentar pela primeira vez em 20 anos uma oposição unida em um país em crise.
Erdogan, 69 anos, está determinado a continuar por mais cinco anos na presidência da Turquia, país de 85 milhões de habitantes que ele transformou profundamente e que atualmente passa por uma grave crise econômica.
Ele enfrenta dois rivais, mas apenas um de peso: Kemal Kiliçdaroglu, 74 anos, candidato de uma aliança de seis partidos de oposição, que vão da direita nacionalista à esquerda democrática, um movimento liderado pelo CHP (social-democrata), fundado pelo pai da Turquia moderna, Mustafa Kemal Atatürk.
Kiliçdaroglu também recebeu o apoio sem precedentes do partido pró-curdo HDP, a terceira maior força política do país.
Em caso de vitória, o opositor será o 13º presidente da história da República da Turquia – que completa 100 anos em 2023 -, sucedendo o longo mandato de Erdogan, o mais longevo desde a queda do Império Otomano.
Um quarto candidato, Muharrem Ince, que de acordo com as pesquisas tinha entre 2% e 4% das intenções de voto, desistiu da eleição na quinta-feira, o que em tese favorece Kiliçdaroglu.
Os turcos devem escolher o partido conservador-islâmico AKP de Erdogan, com uma prática cada vez mais autocrática do poder – 16.753 indiciamentos em 2022 por “insultar o presidente”, segundo os números do ministério da Justiça – e o CHP laico de Kiliçdaroglu.
Os 64 milhões de eleitores também votarão para renovar o Parlamento.
– Vitória no primeiro turno? –
As pesquisas projetam uma eleição muito disputada. Os dois lados estão convencidos que conquistarão a vitória no primeiro turno. Se isto não acontecer, o segundo turno está programado para 28 de maio.
Kiliçdaroglu abordou rapidamente o que poderia representar um obstáculo para sua campanha em uma Turquia predominantemente sunita: o fato de pertencer ao alevismo. Em um vídeo que viralizou nas redes sociais, o candidato reconheceu publicamente sua adesão a este ramo heterodoxo do islã.
Ele promete “justiça, a lei e apaziguamento” em todos os temas, da economia até o poder aquisitivo (a inflação na Turquia superou 85% em outubro), incluindo as liberdades públicas.
Em um país afetado por uma grave crise econômica e de confiança, onde jovens formados em Engenharia e Medicina tentam deixar o país, o onipresente Erdogan luta com todas as forças para salvar seu legado e conta com o índice de 30% de eleitores fiéis.
O campo do “Reis” (Chefe) – como ele é chamado pelos partidários – aborda as promessas de campanha com números e injúrias: acusa os rivais de conluio com os “terroristas” do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão), ataca seus vínculos com o Ocidente e suas “conspirações”, além de apresentá-los como “pró-LGBT” que querem “destruir a família”.
– Voto dos jovens –
Pouco mais de cinco milhões de jovens votarão pela primeira vez. Este grupo só conheceu a Turquia governada por Erdogan, com sua guinada autocrática desde as grandes manifestações de 2013 e a tentativa frustrada de golpe de Estado de 2016, que terminou com dezenas de milhares de detenções.
“A primavera chegará graças a vocês”, afirmou Kiliçdaroglu aos jovens em um comício.
Uma pesquisa do instituto Metropoll aponta que ele tem o apoio da maioria dos eleitores na faixa entre 18 e 24 anos.
Outra dúvida para as eleições é o impacto do terremoto de 6 de fevereiro, que deixou mais de 50.000 mortos e um número desconhecido de desaparecidos no sul do país. Os sobreviventes, que denunciam que a ajuda chegou muito tarde, agora estão espalhados por todo o país ou vivem em barracas provisórias.
Também existe a preocupação com a lisura do processo eleitoral e o “estado da democracia” na Turquia, alertou o Conselho da Europa, que enviará 350 observadores ao país, além dos designados pelos partidos, aos 50.000 locais de votação.
O vice-preisdente do CHP, Oguz Kaan Salici, se mostrou otimista. “Não vivemos em uma república das bananas”, declaru.
De acordo com um diplomata que pediu anonimato, a Turquia está apegada ao princípio das eleições. “Mesmo na época em que os militares davam um golpe de Estado a cada 10 anos, eles colocavam seu poder em jogo nas urnas”, disse.
Kiliçdaroglu pediu aos seus partidários que “permaneçam em suas casas” em caso de vitória, por medo de confrontos.
Ao mesmo tempo, Erdogan ocupa o espaço: segundo o Conselho Superior de Rádio e Televisão (RTük), entre 1º de abril e 1º de maio o canal de televisão estatal TRT deu 32 horas de cobertura ao vivo aos discursos presidenciais e apenas 32 minutos a Kiliçdaroglu.