O presidente Recep Tayyip Erdogan conta com os drones turcos para aprofundar os laços militares da Turquia com os países africanos, cujos líderes foram convidados para uma reunião que acontecerá nos dias 17 e 18 de dezembro em Istambul.

O encontro Turquia-África acontece na esteira de um fórum empresarial realizado em outubro passado e dedicado a investimento e comércio.

A próxima fase dessa relação bilateral é a segurança, segundo especialistas, com muitos governantes africanos interessados em comprar equipamento militar a preços mais convidativos e sem tantas condições.

Autoridades de 39 países, incluindo 13 chefes de estado e dois primeiros-ministros, confirmaram sua presença no evento. Erdogan discursará no sábado (18).

Ancara já tem uma base militar na Somália, enquanto Marrocos e Turquia receberam a primeira entrega de drones militares turcos em setembro.

Angola manifestou seu interesse pelos aviões não tripulados turcos durante a primeira visita de Erdogan a este país africano em outubro.

A Turquia também assinou um compromisso de cooperação militar em agosto com o primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, que trava há um ano uma guerra feroz contra os rebeldes do Tigré.

“O setor mais importante é o da defesa, porque é algo novo. A Turquia promoveu muito esse setor, especialmente os drones”, disse à AFP o pesquisador de Relações Internacionais Federico Donelli, da Universidade de Gênova.

O drone TB2 Bayraktar tem uma demanda particularmente alta, após a demonstrada eficácia nos conflitos na Líbia e na região separatista de Nagorno Karabakh, no Azerbaijão.

Estes dispositivos turcos são fabricados pela empresa privada Baykar, dirigida pelo genro de Erdogan.

“Onde quer que eu vá na África, todo mundo me fala de drones”, afirmou Erdogan, após sua viagem por Angola, Nigéria e Togo em outubro.

– Vendas em alta

Este ano, a Turquia enviou um número não divulgado de drones militares para apoiar a campanha de Abiy, mas acabou suspendendo a venda diante da pressão internacional, disse uma fonte ocidental.

Até o momento, o conflito com os rebeldes do Tigré deixou, segundo a ONU, milhares de civis mortos e mais de dois milhões de deslocados.

Os números oficiais turcos não detalham as vendas militares para países específicos, revelando apenas as vendas totais de cada mês. E estes números cresceram de forma espetacular no último ano.

No caso da Etiópia, as exportações militares e aéreas procedentes da Turquia chegaram a US$ 94,6 milhões entre janeiro e novembro, contra apenas US$ 235.000 no mesmo período do ano anterior, de acordo com dados da Assembleia de Exportadores Turcos.

As vendas para Angola, Chade e Marrocos tiveram aumentos similares.

Os drones turcos ficaram conhecidos fora de suas fronteiras depois que Ancara assinou dois acordos com o governo líbio em 2019.

A Turquia cristalizou o prestígio de seus drones no ano passado, ao ajudar o Azerbaijão a recuperar a maior parte do território perdido três décadas atrás para as forças separatistas de armênios étnicos na disputada região de Nagorno Karabakh.

“Agora, com os drones, a Turquia tem mais cartas na manga na hora de negociar com outros países”, comentou Donelli, acrescentando que “é uma carta de negociação muito boa para a Turquia”.

A Turquia estabeleceu uma rede de 37 escritórios militares em toda África, em conformidade com a meta de Erdogan de triplicar o comércio com este continente, até atingir em torno de US$ 75 bilhões nos próximos anos.