04/11/2020 - 17:43
O Facebook e o Twitter marcaram como potencialmente enganosas publicações de Donald Trump, nesta quarta-feira (4), em que ele se declara vencedor da acirrada eleição americana, enquanto a tensa contagem de votos continua nos estados-chave.
Esse cenário, que já era previsto e gerava temores antes da eleição, começou a tomar forma na noite de terça-feira. O presidente republicano aproveitou os primeiros dados para transferir a guerra de comunicação e de nervos contra seu rival democrata, Joe Biden, para as redes sociais.
O Twitter colocou advertências em várias postagens do presidente, inclusive nesta quarta-feira de manhã, quando Trump voltou a questionar a contagem de votos nos estados decisivos.
Outra mensagem retuitada por Trump, urgindo as pessoas a irem aos tribunais para decidir a eleição, também foi marcada. O mesmo aconteceu na noite de terça-feira com um tweet do candidato à reeleição alegando que seus oponentes estavam tentando “roubar” as eleições.
Em cada ocasião, a plataforma publicou o seguinte aviso: “Alguns ou todos os conteúdos compartilhados neste tweet são contestáveis e podem ter informações incorretas sobre como participar de uma eleição ou de outro processo cívico”.
A rede social também marcou vários posts de líderes políticos, entre eles o presidente do Partido Democrático de Wisconsin e um senador republicano da Carolina do Norte, que anunciaram os resultados de alguns estados antes de se tornarem oficiais.
No Facebook, a publicação de Trump que levou ao alerta se manteve visível, mas a plataforma adicionou a ela um link para seu centro de informações eleitorais, onde mostra os resultados oficiais.
Uma postagem em que o candidato republicano tenta lançar dúvidas sobre a legitimidade dos votos por correspondência também ganhou uma advertência.
“Desde que o presidente começou a proclamar a vitória de modo prematuro, adicionamos notificações no Facebook e Instagram para indicar que a contagem de votos está em andamento e que ele ainda não ganhou”, disse a equipe de comunicação do grupo californiano.
Essas medidas fazem parte das hipóteses previstas pelo Facebook e Twitter antes das eleições e suas ações coincidem com as que foram anunciadas.
– Atentos –
O magnata republicano já havia insinuado semanas atrás que se não vencesse a eleição seria por causa das irregularidades no processo eleitoral.
Após seus tweets acusadores, Trump se referiu a uma “fraude”, garantindo que pretendia ir à Suprema Corte, durante um breve discurso.
As redes sociais implementaram um conjunto de medidas para garantir a integridade da votação e limpar sua reputação, colocada em dúvida pelas grandes operações de manipulação orquestradas do exterior na campanha eleitoral de 2016 nos EUA.
O Facebook parece dominar a detecção e o desmantelamento dessas campanhas e agora teme incitações à violência e mensagens que possam incendiar ainda mais os ânimos, especialmente os de grupos radicalizados.
No início de outubro, o Facebook removeu contas vinculadas ao movimento conspiracionista “QAnon”, um coletivo pró-Trump de extrema direita. O Twitter e o YouTube tomaram medidas semelhantes.
Tanto o rigoroso escrutínio quanto as declarações do presidente republicano reforçaram os receios de que as divisões políticas saíssem dos trilhos e as plataformas fossem mal utilizadas.
Anúncios políticos e sobre temas sociais ou eleitorais serão proibidos pelo Facebook a partir de quarta-feira nos Estados Unidos, provavelmente por uma semana, para “restringir os riscos de confusão ou abuso”.
– “Sinal de alerta” –
As múltiplas precauções, porém, não convenceram grande parte da sociedade civil, que considera esses esforços insuficientes, principalmente no que se refere ao combate à desinformação.
Um vídeo cortado e manipulado de Joe Biden, onde o candidato democrata parece afirmar que o governo de Barack Obama implantou um grande sistema de fraude eleitoral, foi visto cerca de 17 milhões de vezes em diferentes páginas, segundo a ONG Avaaz.
“É uma enorme sinal de alerta que demonstra que as plataformas continuam despreparadas”, apontou a organização em um comunicado.
A Avaaz também denunciou vários rumores espalhados pela direita para convencer as pessoas de que “a esquerda está preparando um golpe se Trump for reeleito” e que haverá “fraude e interferência em escala nacional”.
“A desinformação divide o povo americano”, lamentou Fadi Quran, diretor da Avaaz.