Ao anunciar a compra do Twitter por US$ 44 bilhões (cerca de R$ 220 bilhões na cotação atual), o bilionário Elon Musk destacou a importância da liberdade de expressão e criou dúvidas em relação aos seus interesses com a aquisição.

Com um patrimônio avaliado em US$ 219 bilhões (aproximadamente R$ 1 trilhão) é difícil imaginar que o homem mais rico do mundo tenha comprado a plataforma para ganhar dinheiro. Até porque no ano passado o Twitter acumulou prejuízo líquido de US$ 221,4 milhões, ante perdas de US$ 1,1 bilhão em 2020.

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“A liberdade de expressão é a base de uma democracia funcional, e o Twitter é a praça digital da cidade onde são debatidos assuntos vitais para o futuro da humanidade”, afirmou Musk em uma declaração conjunta com o Twitter. “Também quero tornar o Twitter melhor do que nunca, melhorando o produto com novos recursos, abrindo o código fonte dos algoritmos para aumentar a confiança, derrotando os robôs de spam e autenticando todos os seres humanos.”

Nos últimos dias, Musk tem sido um crítico ferrenho da plataforma e da necessidade de garantir a liberdade de expressão dos usuários. O que se especula é o que Musk quer fazer com o Twitter. Ele afirma que comprou o Twitter para liberar seu potencial de liberdade de expressão. E diz que o Twitter “precisa ser transformado em uma empresa de capital fechado” para construir a confiança com os usuários.

As mudanças propostas para a empresa incluem a flexibilização de restrições de conteúdo e o bloqueio de contas falsas e automatizadas. Em um post no Twitter, pouco antes de o negócio ser anunciado, Musk disse esperar que seus “piores críticos” seguissem na plataforma. A mensagem foi retuitada pelo presidente Jair Bolsonaro e por seu filho Eduardo Bolsonaro.

Musk já se definiu como um “absolutista da liberdade de expressão” conhecido por bloquear e atacar seus opositores no Twitter. Ele tem 83 milhões de seguidores na plataforma.

Críticos da compra do Twitter por Musk receiam que o empresário acabe com esforços que vinham sendo implementados para combater a desinformação e a propagação de notícias falsas com o objetivo de melhorar a qualidade do debate público, e torne a plataforma uma terra sem lei. Sob essa perspectiva, a retirada de qualquer controle sobre o que pode ser publicado e ter grande alcance seria prejudicial ao próprio debate público que Musk diz prezar, ao favorecer a propagação de discurso de ódio e de desinformação.

Pablo Ortellado, professor do curso de gestão de políticas públicas da EACH-USP e especialista em monitoramento do debate político no meio digital, afirmou no Twitter que a redução da moderação na plataforma deve tornar o ambiente “ainda mais agressivo e poluído”, mas elogiou a promessa de Musk que dar transparência ao algoritmo do Twitter.

Em fevereiro, o Twitter fechou um acordo com o Tribunal Superior Eleitoral brasileiro para combater a disseminação de desinformação durante a campanha eleitoral deste ano. Em outras eleições e durante a pandemia, o Twitter adotou como estratégia a colocação de alertas em posts com desinformação e o bloqueio de usuários e remoção de conteúdos que feriam as políticas de uso.

O Ministério Público Federal brasileiro avalia pedir informações ao Twitter se a aquisição afetará as políticas de combate à desinformação na plataforma.

O Partido Republicano dos Estados Unidos havia visto a potencial aquisição por Musk com bons olhos, após o ex-presidente Donald Trump ter sido bloqueado pela plataforma em janeiro de 2021, após a invasão do Capitólio por seus apoiadores. No entanto, Trump disse à emissora Fox News que não tinha intenção de voltar à plataforma, e que em vez disso usaria sua própria rede social, a Truth Social.