Elon Musk voltou a irritar seus usuários, nove meses depois de comprar o Twitter, limitando – sem aviso prévio – o uso gratuito da rede social, uma decisão na contracorrente da indústria, da qual seus concorrentes buscam tirar proveito.

Assim, o grupo Meta, de Mark Zuckerberg, empresa matriz do Facebook, apresentou esta semana seu novo aplicativo Threads, que pretende competir diretamente com o Twitter.

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Descrito pela Apple como “o aplicativo do Instagram para conversas de texto”, está programado para ser lançado nos Estados Unidos nesta quinta-feira (6).

Já o projeto Bluesky, liderado pelo cofundador do Twitter Jack Dorsey e acessível por convite, também está tentando chamar a atenção, com uma abordagem mais descentralizada.

Essas iniciativas pretendem aproveitar a deterioração da imagem do Twitter desde sua compra por Musk, no ano passado, por 44 bilhões de dólares (em torno de 212 bilhões de reais na cotação atual).

A rede do passarinho azul voltou a gerar fortes reações na semana passada, ao restringir a leitura de tuítes a 10.000 por dia para as contas auditadas, portanto pagas; a 1.000, para as demais; e a até 500, para novas contas. Limites máximos que já foram aumentados duas vezes em poucos dias.

O objetivo declarado é limitar o uso maciço dos dados da rede social por parte de terceiros, especialmente as empresas que alimentam seus modelos de Inteligência Artificial.

“Isso atrapalhava o uso normal” dos usuários de Internet, alegou Musk, que também pôs fim, ontem, à possibilidade de visualizar tuítes sem fazer login e se identificar.

Muitos usuários reclamaram que alguns recursos são inutilizáveis.

Nesta terça, a rede social também anunciou que, dentro de um mês, vai reservar seu aplicativo TweetDeck, muito utilizado por profissionais da informação, para contas auditadas, ou seja, pagas.

“A trajetória das plataformas foi construída sobre sua capacidade de garantir um serviço estável e confiável, sem limites de uso”, observou John Wihbey, professor da Universidade de Northeastern, nos Estados Unidos.

O que está acontecendo é “um giro de 180 graus”, ressalta.

– Razões éticas e agora técnicas –

Por meio de demissões e reduções de custos, “há muito tempo se espera que a infraestrutura da plataforma se deteriore até se tornar inutilizável, ou que as disfunções afastem os usuários”, continua Wihbey.

Quando Musk assumiu o controle do Twitter em outubro, “as pessoas estavam dispostas a sair por razões éticas”, lembra ele. “Hoje, Musk lhes dá razões técnicas”, acrescenta.

“É mais um motivo, pelo qual os anunciantes vão gastar seus orçamentos dedicados às redes sociais em outros lugares”, afirma Mike Proulx, da empresa Forrester.

As marcas “dependem de seu público e das interações (com os usuários). O Twitter está destruindo ambos. Como vão explicar para os anunciantes que os usuários podem não ver seus anúncios, devido à limitação de uso?”, questiona Justin Taylor, ex-membro da rede social e atual vice-presidente da Liga Profissional de Luta Livre (WWE).

Este novo anúncio é prejudicial, pois dá a impressão de que Musk está sempre sozinho no comando.

A nova CEO, Linda Yaccarino, assumiu há quase um mês, em grande parte como uma tentativa de tranquilizar os anunciantes.

As restrições aplicadas pelo Twitter complicam o trabalho de pesquisadores que analisam o comportamento dos usuários da rede social, no que diz respeito à disseminação de desinformação.

Apesar de o Twitter ainda ser uma rede “mais aberta” que seus concorrentes, “torna-se extremamente complicado fazer isso legalmente com dados publicáveis”, disse à AFP Florent Lefebvre, especialista francês em análise de dados de redes sociais.

Segundo ele, as limitações “incomodam o público em geral”, mas as empresas especializadas em extração de dados encontraram soluções, multiplicando o número de contas que utilizam.