O Uber é uma tecnologia disruptiva. Como sempre acontece nesses casos,  provoca-se um furacão ao se desmontar estruturas de negócios consolidadas e a legislação é obrigada a se adaptar. No caso do aplicativo da “carona” paga,  a situação é complexa e não se resolve de uma hora para a outra. A disputa da opinião pública, no entanto, já está ganha: Uber 10 x 0 táxis.

Alguém dúvida? Basta acompanhar as redes sociais, entrevistas de “populares” nas reportagens ou conversar com amigos e familiares. E, principalmente, notar o número cada vez maior de usuários que baixam e recorrem ao serviço. E muitos saem por aí falando bem. Enquanto isso, taxistas de diferentes estados perseguem e agridem motoristas do Uber e usuários e ameaçam danificar os carros. Adotam a tática da truculência.  

Ameaças 

Os exemplos de desespero só reforçam a imagem de uma categoria que, convenhamos, nunca foi das melhores. É evidente que há exceções e toda generalização é perigosa. Existem taxistas extremamente profissionais e que valorizam aquele que senta no banco de seu veículo. Mas não parece haver dúvidas de que, na média, o usuário não avalia bem o serviço prestado pelos taxistas. 

Se não fosse por isso, não haveria motivos para temer uma possível fuga de clientes para uma tecnologia nova, que ainda precisa ser popularizada e não é necessariamente barata. A reação agressiva – literal e metaforicamente – da classe é praticamente uma confissão de culpa. A cada motorista do Uber perseguido, é como se os taxistas dissessem: “Eu não presto um bom serviço. Você, sim. Isso não vale!”

E em resposta à violência, o Uber saiu-se com uma tacada inteligente: começou a oferecer corridas de graça. Que diferença, não?

O que diz o Cade? 

Além do temor de perder o cliente, a grita contra o Uber tem a ver com a quebra de um monopólio que nem sempre primou pela transparência. A startup significa aumento da concorrência, e isso é benéfico para a economia e para o cidadão. Não à-toa, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) já se pronunciou a favor de uma negociação entre as partes. “Acho, sim, que há possibilidade de coexistência”, afirmou ontem o procurador-chefe do Cade, Vitor Ruffin. “É isso que a gente está tentando passar publicamente, que sejam criadas as condições para que essa coexistência seja pacífica e produtiva para os taxistas, para novos entrantes no mercado, como o Uber, e que isso seja feito através de um processo competitivo tendo em vista o consumidor”.

É isso. Corretíssimo.

No fundo, o fenômeno Uber é mais um exemplo do “empoderamento” do consumidor proporcionado pela tecnologia digital.