Esquema de superfaturamento foi revelado por órgãos de combate à corrupção dias depois de eles travarem queda de braço com Zelenski por autonomia. Um dos presos é correligionário do presidente ucraniano.Os órgãos de combate à corrupção da Ucrânia revelaram neste sábado (02/08) um escândalo de compra superfaturada de drones e sistemas de bloqueio de sinal para uso militar.

O anúncio foi feito dois dias após as agências governamentais Nabu e Sapo terem restauradas sua independência para investigar desvios no governo, o que foi fruto de uma bem-sucedida mobilização da sociedade civil contra um projeto de lei que acabava com a autonomia desses órgãos. O caso ensejou os primeiros e maiores protestos nacionais desde a invasão russa, em 2022.

Em um comunicado publicado pelas duas agências nas redes sociais, a Nabu e a Sapo comunicaram a prisão de quatro pessoas e acusaram um parlamentar, dois funcionários públicos e um número não especificado de guardas nacionais de receberem propinas.

“A essência do esquema era concluir contratos estatais com fornecedores a preços deliberadamente inflados” em até 30%, segundo as agências.

O parlamentar preso é Oleksii Kuznetsov, que pertence ao mesmo partido deo presidente Volodimir Zelenski. A sigla reagiu com o anúncio de sua suspensão até a conclusão das investigações.

Zelenski sob pressão da sociedade civil ucraniana

“Só pode haver tolerância zero à corrupção, claro trabalho em equipe para expor a corrupção e, como consequência, uma sentença justa”, reagiu o presidente Zelenski em mensagem publicada no Telegram.

Zelenski – que ainda tem boa aprovação entre os ucranianos e, por causa da guerra, goza de amplos poderes presidenciais – foi forçado a voltar atrás em sua tentativa de colocar a Nabu e a Sapo sob o controle de seu procurador-geral a fim de supostamente prevenir interferência russa.

O recuo foi elogiado pelos aliados da Ucrânia na Europa, que haviam expressado preocupação com a investida contra os órgãos de combate à corrupção e advertido Zelenski de que a ação atrapalharia a admissão de Kiev na União Europeia.

Escândalos de corrupção na compra de armamentos têm sido recorrentes na Ucrânia, que tenta há mais de três anos repelir a invasão russa.

Desde que foram criadas, a Nabu e a Sapo se envolveram em investigações abrangentes sobre desvios de milhões de dólares em diversos ministérios e setores. Uma delas, sobre pagamento de 3 milhões de dólares em propinas, levou em 2023 à prisão do chefe da Suprema Corte do país, Vsevolod Kniaziev.

Dentre 180 países, a Ucrânia aparece em 105º lugar no Índice de Percepção da Corrupção da Transparência Internacional – posição similar à do Brasil, em 107º. Nesse ranking, a percepção da corrupção é maior quanto pior for a posição do país.

ra (Reuters, dpa, ots)