A Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) se reúne nesta quarta-feira (22) para abordar a guerra na Ucrânia, a dois dias do primeiro aniversário da invasão russa, e Kiev e os seus aliados esperam obter o maior apoio possível para uma resolução que apela a uma “paz justa e duradoura”.

O projeto de resolução, promovido por cerca de 60 países, “destaca a necessidade de alcançar uma paz abrangente, justa e duradoura na Ucrânia, de acordo com os princípios da Carta das Nações Unidas, o mais rápido possível”.

O texto deve ser colocado em votação no final dos debates, que terão início às 15h locais (17h no horário de Brasília) e se prolongarão pelo menos até quinta-feira.

Como nas resoluções anteriores, o texto reafirma o “apego” à “integridade territorial da Ucrânia”, “exige” a retirada imediata das forças russas e pede o “fim das hostilidades”.

Não faz, contudo, referência ao plano de paz de dez pontos apresentado em novembro pelo presidente ucraniano, Volodimir Zelensky.

A Ucrânia optou por desistir desse plano para tentar obter o maior número de votos possível, segundo fontes diplomáticas. Pelo menos tanto quanto em outubro, quando 143 países votaram a favor da resolução que condenou as anexações de vários territórios ucranianos pela Rússia.

“Chegamos a um texto que realmente tenta unir a comunidade internacional, e ser o mais coerente e positivo possível”, comentou um diplomata europeu.

Um ano após a invasão da Ucrânia, lançada em 24 de fevereiro, a medida também será uma mensagem para a Rússia de que “não pode atingir seus objetivos pela força”, acrescentou, esperando que, se Moscou “se sentir realmente isolada, em algum momento será muita pressão para resistir”.

– “Simbólico” –

Na véspera do início desta sessão, em que se espera a presença de muitos ministros, entre eles o secretário de Estado americano, Antony Blinken, o presidente russo, Vladimir Putin, prometeu na terça-feira continuar “sistematicamente” sua ofensiva na Ucrânia, em um discurso retórico com reminiscências antiocidentais da época da Guerra Fria.

Apoiar a paz na Ucrânia “não significa escolher entre Estados Unidos e Rússia”, mas sim “defender a Carta” da ONU, respondeu a embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Linda Thomas-Greenfield, enquanto alguns países do Sul mostram certo cansaço diante da determinação do Norte em continuar concentrado nesta guerra.

Neste contexto, a China, que se disse “muito preocupada” com um conflito que “está saindo do controle”, indicou que quer apresentar em breve uma proposta para encontrar uma “solução política” para a guerra. A China e outros países, principalmente a Índia, abstiveram-se nas votações anteriores da ONU sobre a Ucrânia.

“Se Kiev não falar em paz, corre-se o risco de os países do Brics começarem a dizer que a Ucrânia é o verdadeiro obstáculo à paz”, disse Richard Gowan, analista do International Crisis Group, referindo-se a Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

“É por isso que os EUA e a UE quiseram fazer referência ao fim das hostilidades no texto desta semana”, explicou ele à AFP.

No entanto, o “fim das hostilidades” acompanhado da retirada das tropas russas como um simples “cessar-fogo” poderia significar apenas uma pausa nas operações que permitiria a reorganização da Rússia, dizem diplomatas.

Embora esta resolução seja principalmente “simbólica”, observa Gowan, ela teria o mérito de enfatizar o isolamento da Rússia, “minando as reivindicações de Putin de liderar uma grande coalizão antiocidental”.

As três resoluções ligadas à agressão russa votadas pela Assembleia Geral há um ano receberam entre 140 e 143 votos a favor, com cinco países sistematicamente contra (Rússia, Belarus, Síria, Coreia do Norte e Eritreia) e menos de 40 abstenções.

Uma quarta resolução um pouco diferente, em abril, que suspendeu a Rússia do Conselho de Direitos Humanos, foi menos consensual, com 93 votos a favor, 24 contra e 58 abstenções.