Na catedral ucraniana de São Volodymyr, o Grande, em Paris, seus fiéis rezam pelos soldados que defendem a “pátria” contra a Rússia, entre imagens de mártires e fotos de vítimas da repressão ao movimento pró-europeu em 2014.

“Que o Senhor proteja (…) aqueles que sofrem as consequências da guerra”, “rezemos para que Deus cuide de todos os soldados que cumprem seu dever de proteger e defender a pátria”, recitou um eclesiástico, em francês, durante a missa.

A ladainha corresponde “à realidade da guerra”, quando “há mortos e feridos”, disse à AFP o reitor da catedral, padre Ihor Rantsya, um dia antes de o presidente russo, Vladimir Putin, ordenar o ataque à Ucrânia.

“Durante a pandemia, rezávamos pelos hospitais e o pessoal da saúde. Agora, lemos essa passagem. A fé não é uma coisa abstrata”, comentou.

A realidade ucraniana é onipresente nesta pequena catedral de culto greco-católico ucraniano construída no século XVI, em um bairro central de Paris. Os sermões são na língua ucraniana, e uma bandeira ucraniana tremula ao lado de uma francesa.

Nela, os rostos de uma centena de “heróis”, mortos em 2014 pelo então governo pró-russo ucraniano durante a revolta de Maidan, uma praça central de Kiev, parecem olhar para o altar.

Fundada no final do século X e com cinco milhões de fiéis, a Igreja greco-católica ucraniana se define como “pró-europeia”, destacou o padre Ihor. Sob a jurisdição de Roma desde 1596, é mais próxima do modelo ocidental de sociedade do que do russo.

“Toda vez que um regime russo, seja czarista, comunista, ou putinista, toma parte da Ucrânia (…), nossa Igreja é destruída”, comentou o monsenhor Borys Gudziak, ex-bispo de Paris e atualmente arcebispo nos Estados Unidos.

Cerca de 400.000 greco-católicos ucranianos foram deportados para a Sibéria após a Segunda Guerra Mundial, disse ele à AFP, acrescentando que as igrejas nos territórios separatistas pró-russos de Donetsk e Luhansk foram fechadas após 2014.

“Nossa Igreja conhece a história e conhece seus perigos”, afirma dom Borys, citando o Holodomor, a grande fome orquestrada pelo regime soviético, que matou milhões de ucranianos na década de 1930.

Putin é “como um ditador que não ouve a França, nem os americanos, nem a Europa e que faz qualquer coisa… como Hitler!”, declarou Mykhailo Andrushko, um homem na casa dos 50 que assistiu à missa na noite de terça-feira (22).

Oksana Kalashnik, uma ucraniana que vive em Paris há dois anos, chamou o presidente russo de “terrorista”.

“O nível de estresse está aumentando” entre os paroquianos, “alguns dos quais estão se aproximando da depressão”, lamenta padre Ihor, que confidencia que ele mesmo tem dificuldade em desligar o telefone em busca de informações sobre seu país.

Os fiéis “nos perguntam como reagir, como lidar com essa situação como cristão, como amar os inimigos”, contou o padre Ihor, de 42 anos.

“Como podemos amar Putin?”, pergunta ele.