30/10/2022 - 11:46
Oleksandr Prijodko mantém a esperança quando, de sua casa, ouve o estrondo dos bombardeios ucranianos para deter os russos no bastião de Kherson(sul), que a Ucrânia tenta recuperar.
O homem de 42 anos está cheio de energia, apesar de estar em meio às ruínas da loja da família que ele construiu com suas próprias mãos, na região conquistada pela Rússia. As forças russas destruíram a construção em julho, quando tentaram tomar pela segunda vez o porto de Mikolaiv, no sul da Ucrânia, a poucos quilômetros de distância.
Desde então, as tropas de Kiev lançaram uma contraofensiva e a estrada que liga Mikolaiv a Kherson tornou-se um dos principais eixos da guerra, que começou em 24 de fevereiro com a invasão russa.
Prijodko cresceu na cidade de Kotliareve, à beira desta estrada e bombardeada pelos russos.
“Nossas vidas dependem de nossos soldados”, diz ele, enquanto os disparos se multiplicam. “Ouvir notícias de nossas conquistas nos dá um grande alívio”, explica ele.
“Pequenas coisas como ver um veículo militar ir e voltar a salvo faz com que eu me sinta melhor”, acrescenta.
No norte do país, mais industrial, a contraofensiva ucraniana lançada em setembro permitiu reconquistar, quase sem combates, territórios controlados pelos russos.
– Mísseis de longo alcance –
Porém, nem os combatentes nem os habitantes esperam que o mesmo aconteça em Kherson, a primeira grande cidade tomada pelos russos após a invasão.
A cidade e sua região homônima são a porta de entrada para a península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, e o Mar de Azov.
Perdê-la seria uma grande derrota para o presidente russo, Vladimir Putin, e o deixaria de mãos vazias após uma guerra que isolou a Rússia no cenário internacional.
Os ucranianos avançaram com sucesso sobre os arsenais e as rotas usadas pela Rússia para abastecer seus soldados em Kherson.
O objetivo era impedir que Moscou obtivesse mais armas. Então eles continuaram a bombardear.
Os ecos da guerra em torno de Kotliareve sugerem que a estratégia da Ucrânia foi bem-sucedida.
Os russos respondem aos tiros ucranianos com tiros esporádicos que já não têm o mesmo efeito sobre os habitantes como antes, após oito meses de guerra.
Com sua esposa Irina, Viktor Romanov, de 44 anos, retorna a sua casa uma vez por semana para ver como estão as coisas e alimentar cães e gatos que rondam o local.
O casal prefere ficar em Mikolaiv, onde se sente mais seguro.
“Antes estávamos cheios de esperança mas logo vimos cair bombas sobre nossas cabeças”, disse Irina. “Nos sentimos como em uma montanha russa, com os ânimos subindo e descendo”, acrescenta, em referência à capacidade da Ucrânia em fazer os russos recuarem.
No sábado, Moscou acusou a Ucrânia por um ataque com drones contra sua frota na baía de Sebastopol, no mar Negro. A medida foi tomada também após o ataque de 8 de outubro, que danificou a ponte que liga a Crimeia à Rússia continental e serve para abastecer suas tropas.
Mas Oleski Vaselenko, um falante de russo que lutou contra as forças pró-russas no leste da Ucrânia em 2014, está preocupado.
Ele nasceu em Kherson há 32 anos e também trabalha para a fábrica de Kotliareve. Manteve o contato com familiares em Kherson, ainda de que de forma secreta para não colocá-la em perigo.
“Todos que conheço querem fazer parte da Ucrânia novamente”, lamenta.