08/05/2022 - 10:32
A invasão russa da Ucrânia acelera uma transformação na União Europeia (UE), um bloco que celebra seu 72º aniversário na segunda-feira (9), enquanto busca se consolidar como um ator global, segundo analistas e autoridades europeias.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, declarou na sexta-feira que a guerra na Ucrânia “desafia fundamentalmente nossa arquitetura de paz”.
A UE celebra o 72º aniversário do seu ato de fundação, a declaração de Robert Schumann propondo a criação de uma Comunidade Europeia do Carvão e do Aço em 9 de maio de 1950.
Fundada há 72 anos como um bloco comercial formado por países que estavam em guerra apenas alguns anos antes, a UE se tornou uma potência política que apoia a Ucrânia com armas e impõe sanções sem precedentes contra a Rússia.
Analistas apontam, porém, que ainda há um longo caminho a percorrer para se tornar um peso-pesado estratégico e autônomo, como deseja o presidente da França, Emmanuel Macron, cujo país detém a presidência rotativa do bloco.
“Para a Europa se tornar um ator geopolítico, é preciso mais do que alguns ajustes políticos ou institucionais”, diz Luuk van Middelaar, teórico político holandês que fez parte do gabinete do ex-presidente do Conselho Europeu Herman Van Rumpuy.
Para Van Middelaar, a UE “cruzou o Rubicão” ao decidir financiar com 1,5 bilhão de euros (cerca de 1,6 bilhão de dólares) a compra e entrega de armas à Ucrânia, em uma virada surpreendente de sua história pacifista.
No entanto, ainda tem uma estratégia comum mal definida em relação aos seus vizinhos próximos, seja a Rússia ou a “área cinzenta dos países” que pretendem ingressar no bloco, incluindo a Ucrânia, segundo o especialista.
– “Federalismo pragmático” –
O Parlamento Europeu adotou uma resolução em apoio à revisão dos tratados da UE, levando em conta as alterações recomendadas na consulta cidadã da Conferência sobre o Futuro da Europa, elaboradas em 49 propostas.
Uma ideia é a votação por maioria qualificada das decisões, proposta por Macron e o italiano Mario Draghi, para acelerar a tomada de decisões.
Outra proposta é dar à Comissão Europeia mais poderes em áreas como a defesa.
As autoridades da UE disseram que a lista de propostas, a ser formalmente entregue a Macron na segunda-feira, será examinada, mas é prematuro dizer se alguma delas exigirá revisão de tratados.
Um diplomata europeu estimou que “mais de 90% das propostas podem ser implementadas sem mudanças” nos tratados.
Se a maioria dos Estados-membros da UE decidir que os tratados precisam ser alterados, eles podem votar no Conselho Europeu para lançar uma “convenção” que leve a negociações.
Já foram feitas tentativas antes de reformar a UE, nem sempre com sucesso.
Em 1992, os eleitores dinamarqueses rejeitaram o Tratado de Maastricht, o texto fundador da UE moderna, embora o tenham adotado um ano depois, após negociar opções de saída, e em 2005 a França e a Holanda enterraram a ideia de uma Constituição da União Europeia.