Foi um início de ano inesquecível para o executivo José Antônio Prado Fay, presidente da Batavo, um dos maiores laticínios do País. Em janeiro de 2004, a companhia acumulava prejuízo de R$ 30 milhões, as contas não fechavam e a geração de caixa encontrava-se negativa em R$ 14 milhões. Para completar, o principal acionista, a Parmalat, dona de 51% do capital, acabara de ir à bancarrota num tsunami de denúncias e escândalos, e ameaçava carregar junto a Batavo. Parecia o pior dos mundos. Mas o naufrágio do sócio foi o ponto de partida para uma nova (e bem-sucedida) fase da empresa. Nela, a Batavo tornou-se uma marca mais reconhecida por sua linha de produtos lácteos refrigerados e deixou para trás a imagem de uma simples, embora confiável, fabricante de leite. O desejo de Fay era fugir da competição em um mercado congestionado, informal e de baixo valor agregado, como o de leite pasteurizado, o mais comum de todos. ?No Brasil, há 130 marcas de leite?, afirma Fay. ?É difícil ganhar dinheiro nesse mercado.?

Menos de um ano depois, os resultados aparecem no balanço. O faturamento da companhia saltou de R$ 509 milhões em 2003 para R$ 562 milhões no ano passado. Desse total, apenas 20% vem do leite, contra 35% de um ano antes. O prejuízo desapareceu e deu lugar a um lucro de R$ 8 milhões. A geração de caixa mudou de sinal e fechou 2004 em R$ 8 milhões positivos. O caminho até esse cenário foi conturbado. Assim que o escândalo Parmalat estourou, os demais acionistas, três grandes cooperativas do Paraná, foram à Justiça e conseguiram afastar os italianos do conselho de administração. ?Com isso, ganhamos agilidade nas decisões?, diz Fay. A saída da Parmalat também ajudou quando o executivo foi conversar com os bancos que financiavam a operação da Batavo. ?Foi duro convencê-los de que éramos uma organização independente, sem contaminação pelos problemas do sócio majoritário?, conta ele. Dos cinco bancos, apenas um se mostrou mais simpático aos planos da companhia. ?Agora as coisas melhoraram e damos reciprocidade, fazendo mais negócios com essa instituição?, diz Fay.

Ao mesmo tempo, a Batavo correu para montar uma nova estrutura de distribuição. Até janeiro de 2004, a entrega de produtos era realizada em conjunto com a Parmalat. Houve casos em que a Justiça lacrava estoques da Parmalat e, de quebra, bloqueava também as mercadorias da Batavo. Em menos de dois meses, nove transportadoras foram contratadas. A empresa alugou novos depósitos e passou a despachar a maior parte de sua produção direto da fábrica para o comerciante.

Com a casa arrumada, a Batavo deu início a uma avalanche de produtos, sobretudo derivados refrigerados de leite, como iogurtes, leites fermentados e sobremesas. Só em 2004, 44 novidades chegaram ao varejo. Em pouco mais de um ano, o portfólio de produtos saltou de 110 para 202. A Batavo aproveitou o encolhimento da Parmalat para se lançar no mercado onde os italianos eram mais fortes, o de leites especiais, aqueles reforçados por vitaminas, cálcio, ferro, entre outros. A Batavo, aliás, garantiu que a marca Parmalat não desaparecesse inteiramente das gôndolas. Em outubro de 2003, a companhia paranaense havia assinado um contrato de uso da marca italiana no mercado de refrigerados. Quando a crise veio, os italianos tentaram recuperar os direitos. O caso foi parar mais uma vez nos tribunais e a Batavo levou a melhor nos julgamentos das duas primeiras instâncias. Mas o embate jurídico entre elas continua, tanto pelo controle acionário, como pelo uso da marca. ?Um dia isso se resolve, mas o que conquistamos até agora não será perdido?, afirma Fay.