29/09/2021 - 9:25
Na sua última ata divulgada ainda hoje, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil menciona um cenário de recuperação consistente e “robusto” para o próximo semestre, por conta do fôlego retomado após um cenário instável de pandemia e também em razão do fluxo de vacinação.
“O Comitê manteve a visão de uma retomada robusta da atividade no segundo semestre, na medida em que os efeitos da vacinação sejam sentidos de forma mais abrangente. Para 2022, o Copom considera que o crescimento da economia será beneficiado por três fatores. Primeiro, pela continuação da recuperação do mercado de trabalho e do setor de serviços, mesmo que em menor intensidade do que se antecipava anteriormente; segundo, pelo desempenho de setores menos ligados ao ciclo de negócios, como agropecuária e indústria extrativa; e, terceiro, por resquícios do processo de normalização da economia conforme a crise sanitária arrefece”, trouxe a ata do Copom nesta terça-feira —28 de setembro.
Ainda assim, existe um alerta de risco para a desaceleração econômica por conta da variante Delta, mesmo com um cenário bastante benigno e positivo para alguns países da Europa e Estados Unidos, que tendem para uma política monetária expansiva, juros baixos e grande estimulação econômica.
“Com relação ao ambiente internacional, observam-se dois fatores adicionais de risco para o crescimento das economias emergentes. Primeiro, reduções nas projeções de crescimento das economias asiáticas, refletindo a evolução da variante Delta da Covid-19. Segundo, o aperto das condições monetárias em diversas economias emergentes, em reação a surpresas inflacionárias recentes. No entanto, os estímulos monetários de longa duração e a reabertura das principais economias ainda sustentam um ambiente favorável para países emergentes”, destacou o documento.
O economista Paulo Gala, mestre e doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo, comenta sobre os principais pontos do documento:
“Os destaques da ata ficam por conta da alta da inflação de serviços e das commodities, já pensando no cenário de 2022, existe uma queda de commodities que pode trazer uma inflação para baixo de maneira até mais rápida do que se imagina.”
Após fixar a Selic em 6,25% na última semana, o Copom anunciou a previsão de mais um aumento na taxa, podendo chegar a 7,25% em outubro. Outras previsões mencionam que a taxa deve chegar a 8,25% até o final de 2021.
O Banco Central justificou que o aumento da taxa Selic vem com o propósito contracionista, como o próprio Copom tenta classificar, seu objetivo é atingir um ritmo de ajuste suficiente para garantir a convergência da inflação para a meta de 2022. Mesmo assim, destacam a importância de avaliar a situação após a pandemia.
“O Copom tem uma visão bastante otimista da inflação para o ano que vem e para 2023. Eles colocam um cenário-base de Selic a 8,25% até o final de 2021, com uma inflação convergindo para 3,7% em 2022. É uma visão muito otimista de convergência de inflação, lembrando que a meta de inflação para o ano que vem é de 3,5%”, comenta Paulo Gala.
O economista completa:
“Isso está relativamente distante da visão de mercado, o mercado tem praticamente um consenso de que a inflação para o ano que vem fica em pelo menos 4%, ou seja, 0,5% acima da meta. Então há uma divergência importante entre os analistas de mercado e o que o próprio Copom explicitou nessa última ata. A questão aqui é: quem está certo? Obviamente, que o Banco Central é fundamental nesse cenário, já que ele vai definir a Selic.”
O cenário de convergência da inflação para o ano que vem ainda é nebuloso, mas é possível afirmar que o BC tem expectativas melhores do que os agentes do mercado financeiro. Isso pode significar que a trajetória de juros levada adiante pelo Banco Central tende a ser um pouco diferente do que se espera, ainda é preciso avaliar quais serão os efeitos econômicos após a pandemia e a instabilidade econômica do país.