22/02/2018 - 7:29
O Hospital Vera Cruz, último dos grandes hospitais psiquiátricos que ainda funcionam no interior de São Paulo, está em contagem regressiva para fechar as portas, em Sorocaba. Os últimos 159 pacientes devem ser transferidos até o início de março para as residências terapêuticas ou a casa de parentes. A desativação está marcada para o dia 6, com a entrega das instalações aos proprietários.
Grupos de pacientes remanescentes estão recebendo alta diariamente. Desde 2012, quando a prefeitura assumiu a gestão do antigo manicômio, após acordo com o Ministério Público, cerca de 400 pacientes foram retirados do local.
Símbolo da política de desospitalização do paciente mental, o Vera Cruz funcionou durante quase 60 anos como hospital de loucos, à margem do km 109 da Rodovia Raposo Tavares. Entre 2006 e 2007, o hospital chegou a registrar 46 mortes – uma a cada 15 dias, segundo a Frente Antimanicomial, coordenada por pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar). Na época, essa alta mortalidade foi usada como bandeira na luta pelo fechamento dos manicômios. Em 2011, a administração do Vera Cruz foi investigada pela polícia e pelo MP por suspeita de maus-tratos e cárcere privado. O hospital foi parcialmente interditado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e proibido de receber mais pacientes.
O Vera Cruz é o maior entre os seis hospitais psiquiátricos que funcionavam na região. Em Sorocaba, já foram fechados os Hospitais Teixeira Lima, Mental e Jardim das Acácias. Em Piedade, saíram os últimos pacientes do hospital Vale das Hortências, e, em Salto de Pirapora, do Santa Cruz. Juntos, eles abrigavam cerca de 2,7 mil doentes.
Desde criança
A paciente Carla dos Santos, de 36 anos, conta que passou a vida em hospitais psiquiátricos de Sorocaba. “Eu fui achada na rua, quando tinha 7 anos. Não lembrava de nada, não sabia da minha família, de ninguém. Então a polícia me levou para o hospital e acabei internada. Só saí para vir para cá”, conta. Ela está abrigada há seis anos na casa terapêutica do bairro do Éden. E continua sem lembrar da família, que também nunca a procurou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.