19/07/2000 - 7:00
DINHEIRO ? É a primeira vez que o sr. vem ao Brasil? O que o sr. espera desta visita?
JEB BUSH ? Eu já tive o prazer de visitar o Brasil antes por duas vezes. O País é o mais importante parceiro comercial da Flórida em todo o mundo. Esta missão comercial que faremos agora será a maior delegação que já visitou o Brasil. É formada por um grande número de empresas da Flórida, com grande ênfase em alta tecnologia e serviços profissionais, que querem aumentar seus laços comerciais com o Brasil. Espero que esta missão venha a fortalecer os vínculos institucionais e comerciais que unem a Flórida ao seu maior vizinho do Sul. Acredito que Flórida e Brasil têm muito a oferecer um para o outro do ponto de vista econômico. Também espero que o interesse gerado por essa missão estimule nossas respectivas comunidades empresariais a olhar mais de perto oportunidades bilaterais para benefício de ambas as partes.
DINHEIRO ? Quais são os produtos da Flórida mais interessantes para o Brasil?
BUSH ? No ano passado a Flórida exportou mais de US$ 5,8 bilhões para o Brasil. Produtos de alta tecnologia dominaram essa lista. Nossos principais itens de exportação foram produtos ligados à aviação, equipamentos de telecomunicações, produtos relacionados à computação, peças de automóveis e eletrônicos.
DINHEIRO ? Para vocês, quais são os setores mais importantes da indústria brasileira? Quais são os mais atraentes para a Flórida?
BUSH ? O Brasil ostenta uma economia grande e sofisticada, que é atraente para as empresas da Flórida e os fornecedores de serviços. Setores como aviação, telecomunicações, tecnologias ambientais e as crescentes tecnologias da informação são cada vez mais importantes para nosso Estado. Na verdade, durante nossa visita, a Miami Internet Alliance (Aliança da Internet de Miami) estará assinando um acordo cooperativo com sua associação correspondente no Brasil, a AMI (Associação de Mídia Interativa). Isso deve estimular a expansão do e-commerce. O Brasil é o principal fornecedor de alguns produtos importados importantes para nós. Aviões feitos pela Embraer são os produtos que mais importamos do Brasil, seguidos de produtos relacionados às telecomunicações, calçados, café e sucos cítricos.
DINHEIRO ? Quase todas as relações comerciais entre os Estados Unidos e o Brasil são feitas através de blocos econômicos como o Mercosul. Isso ajuda ou atrapalha os investimentos da Flórida aqui?
BUSH ? A Flórida se beneficiaria mais do que qualquer Estado americano com uma integração das Américas. Eu acredito que a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) será favorável para todas as nações participantes, mas significará um grande impulso para a Flórida, que, como você sabe, entre os Estados americanos, é o principal parceiro de todas as nações do continente. O futuro da Flórida e dos Estados Unidos está intimamente ligado com o da América Latina. Num mundo que parece estar a cada dia mais organizado em blocos comerciais, a integração com a América Latina representa uma aliança lógica. Blocos como o Mercosul são importantes, pois servem como base para um processo ainda maior de tarifas comuns, acordos comerciais etc.
DINHEIRO ? Uma das dificuldades das relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos é a barreira americana a alguns produtos nacionais (suco de laranja e aço, por exemplo). Na sua opinião, se os dois países estreitarem relações, esse tipo de problema tende a diminuir?
BUSH ? Como na vida real, mesmo os melhores vizinhos têm algumas áreas de conflito. Acho melhor focar nas áreas em que os dois países têm interesses comuns. No ano passado, por exemplo, as exportações brasileiras aos Estados Unidos via Flórida aumentaram mais de 25%. Nós temos uma relação em que a esmagadora maioria dos negócios é mutuamente vantajosa. Eu não tenho dúvida de que se continuarmos a expandir a relação bilateral entre os dois países, a Flórida desempenhará um papel de extrema importância. Estou convencido de que o futuro desse relacionamento é brilhante.
DINHEIRO ? A Flórida é a principal conexão entre Brasil e Estados Unidos. Em Miami, há inúmeras sedes de empresas multinacionais com forte atuação na América Latina. Elas preferem ter escritórios lá do que em São Paulo, por exemplo. Qual é a sua explicação para isso? Isso não atrapalha o processo de crescimento do Brasil?
BUSH ? Miami e São Paulo são ambas centros de negócios de classe mundial. Empresas multinacionais que escolhem Miami tendem a ter operações múltiplas por todo o continente. Elegem a cidade por causa da sua localização geográfica, sua infra-estrutura de logística e afinidade cultural com as Américas. Entretanto, as operações das multinacionais tendem a se concentrar em vendas, suporte e logística ? não é o tipo de operação que o Brasil tem atraído com sucesso desde a abertura da sua economia. Muitas das operações estabelecidas em Miami servem como base para negócios em toda a América Latina. Então, nesse caso o que é bom para Miami é bom para o Brasil. Além disso, muitas companhias brasileiras acham que Miami e a Flórida são lugares vantajosos para estabelecer suas operações nos Estados Unidos. Empresas como Embraer, Odebrecht, Cutrale, Petrobras, Vicunha e Banco do Brasil têm operações consideráveis na Flórida ? e elas contribuem fortemente para a economia brasileira.
DINHEIRO ? Ou o sr. acredita que à medida que o Brasil e São Paulo se fortaleçam, Miami perderá esse apelo?
BUSH ? Exatamente o contrário. Se São Paulo e o Brasil se fortalecem é bom para a Flórida. Nós apreciamos uma relação complementar. O Brasil é o nosso cliente número um no mundo. Assim, uma expansão contínua da economia brasileira e dos investimentos das multinacionais no País representa uma grande oportunidade para os fornecedores e prestadores de serviços da Flórida. Se a economia brasileira continua crescendo com força, os negócios entre Brasil e Flórida também crescerão, o que é bom para os dois países. Eu espero que o número de multinacionais que precisam de operações complementares tanto na Flórida como no Brasil continue a aumentar, criando empregos e prosperidade para as duas regiões.
DINHEIRO ? Qual é a importância do Brasil para a economia da Flórida?
BUSH ? Como eu disse antes, o Brasil é nosso parceiro comercial número um no mundo, não apenas na América Latina. A relação é favorável para nós (as exportações para o Brasil ficaram em US$ 5,8 bilhões e as importações, em US$ 2,6 bilhões). Mas, nos últimos anos, as exportações brasileiras têm crescido mais rapidamente do que as da Flórida. Cerca de 12% de todos os nossos negócios no mundo são com o Brasil. Ele é também a nossa fonte número um de turistas latino-americanos e um grande investidor na Flórida. Nós estimamos que as empresas e investidores empreguem 10 mil pessoas aqui. Além disso, cerca de 150 mil brasileiros moram e pagam impostos no nosso Estado.
DINHEIRO ? Como a desvalorização do real no ano passado afetou isso?
BUSH ? Como uma relação econômica importante, quando o Brasil tem problemas, nós temos problemas. Nosso setor internacional foi afetado pela desvalorização e o desaquecimento da economia. No ano passado, nossas exportações para o Brasil tiveram uma queda de 6%, a primeira desde o começo dos anos 90. E a Flórida teve o seu primeiro déficit da balança comercial na última década. O turismo de brasileiros também foi afetado e imagino que os altos custos dos investimentos em dólar também desencorajaram investidores. Portanto, você pode imaginar como estamos felizes com as projeções de crescimento econômico do Brasil este ano e no futuro.
DINHEIRO ? Cinco anos atrás, seu pai (o ex-presidente americano George Bush) veio ao Brasil. Uma das principais razões da visita foi a integração comercial entre todos os países americanos. Como o sr. analisa a situação atualmente? Há mais integração hoje? Melhorou ou continua do mesmo jeito?
BUSH ? Todos gostariam de ver as negociações para a Alca se moverem num ritmo mais rápido, sem levar em conta que o processo perdeu alguns momentos durante os últimos anos. Eu acredito que um justo e correto acordo vai impulsionar as Américas numa nova era de prosperidade, o que vai beneficiar a Flórida também. Por isso, gostaria de ver a Alca se tornar uma grande prioridade dos Estados Unidos. Sou otimista que se vá chegar a um entendimento nesta década e que nós teremos a oportunidade de continuar a expandir o acordo inicial nos anos que virão. Acho que alguns progressos significativos já foram feitos com a abertura das economias e o estabelecimento de um mecanismo de negociação. Integração não é fácil. Basta olhar para a experiência européia e para muitos dos desafios das Américas. Um hemisfério composto por nações com uma larga disparidade no desenvolvimento econômico e no tamanho é ainda mais complexo.
DINHEIRO ? Qual a sua avaliação do governo brasileiro e suas políticas? Qual sua opinião a respeito do presidente Fernando Henrique Cardoso, Pedro Malan e Armínio Fraga?
BUSH ? Não pretendo ser um especialista em Brasil, mas sei que o presidente Fernando Henrique e seu time têm alcançado altas marcas junto à comunidade financeira e empresarial em todo o mundo, pela maneira como eles direcionam a economia brasileira. Esses feitos estão refletidos no sucesso deles ao conduzir o Brasil rumo a uma economia mais aberta durante uma crise econômica.
DINHEIRO ? Qual sua opinião sobre os novos presidentes da América Latina: Fox, no México; Lagos, no Chile; De la Rúa, na Argentina; Fujimori, no Peru; e Chavez, na Venezuela?
BUSH ? Acho de suma importância que nós estejamos vivendo uma sucessiva expansão da democracia no hemisfério. Eu apóio o contínuo fortalecimento das instituições democráticas e do direito das nações de escolher seus próprios governos democraticamente.