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O primeiro aniversário do Itaú Unibanco será comemorado no próximo dia 3 de novembro. Parece que foi ontem, mas muita coisa aconteceu desde que as famílias Setubal, Vilella e Moreira Salles celebraram o acordo que criou, na época, o maior banco do País. A liderança sobre o Banco do Brasil durou apenas nove meses, mas o topo do ranking privado continua garantido.

Por quanto tempo, ninguém sabe. O Bradesco e o Santander, que acaba de captar R$ 14 bilhões para crescer no Brasil, têm fome de bola e farão de tudo para desbancar o concorrente. Mas não será fácil. A integração dos dois gigantes está saindo melhor que o esperado e resultará numa máquina bancária altamente competitiva.

“Não poderíamos estar mais satisfeitos”, afirmou o presidente executivo Roberto Setubal à DINHEIRO. Se o ritmo dos ajustes e dos negócios for mantido, o Itaú Unibanco poderá dar em breve seu primeiro grande passo rumo ao sonho de se tornar um banco global. Quem sabe a próxima festa será regada a tequila

Um dos rumores mais recorrentes no mercado internacional é a possível compra do Banamex, segundo maior banco mexicano, que pertence ao Citigroup. O negócio, que passaria de US$ 25 bilhões, pode ser uma daquelas oportunidades que surgem apenas em momentos dramáticos, como o atual.

Com a crise do subprime, o Citigroup teve de ser socorrido pelo Tesouro dos Estados Unidos, que injetou mais de US$ 40 bilhões e ficou com 34% das ações. O problema é que, no México, a legislação proíbe que governos estrangeiros possuam mais de 10% dos bancos do país. As autoridades mexicanas fizeram vista grossa à mudança na matriz do Banamex por entenderem que é uma situação emergencial e temporária.

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Visão de longo prazo: Setubal (à esq.) e Moreira Salles querem fazer do Itaú Unibanco uma instituição com peso global

Mas um grupo de senadores de oposição ao governo do presidente Felipe Calderón está questionando essa decisão na Justiça. Se a pressão de cunho nacionalista vingar, o Citi terá de fazer as malas, para alegria dos potenciais compradores. Dentre eles, os brasileiros. Como de praxe, os banqueiros Roberto Setubal e Pedro Moreira Salles não confirmam o interesse pelo Banamex, nem as supostas negociações. Nem poderiam. Transações dessa magnitude são feitas em sigilo absoluto – ninguém antecipou a fusão do Itaú com o Unibanco.

O Citi, de seu lado, já desmentiu o interesse na venda da subsidiária, uma de suas operações mais rentáveis na América Latina. Mesmo assim, o boato persiste. “O Itaú Unibanco sai fortalecido da integração dos dois bancos e precisa decidir se compra ou não o Banamex para se tornar um banco com peso global”, afirma um poderoso banqueiro de investimentos brasileiro.

Um dos sinais de que o Itaú Unibanco leva a sério essa estratégia internacional foi a montagem de um conselho de notáveis, chefiado pelo ex-ministro da Fazenda Pedro Malan, para debater os rumos da economia e as oportunidades de negócio para o banco. O grupo tem pesos pesados como André Lara Rezende, Carlos Ghosn (Renault-Nissan), Marcel Telles (InBev), Jacob Frenkel (AIG), Raghuram Rajan (Universidade de Chicago) e Woods Staton (McDonalds).

Também participa o banqueiro de investimentos Pedro Aspe (Evercore Partners), que foi secretário de orçamento e receita do México. A primeira reunião foi marcada para Londres, no início de outubro, logo após o encontro anual do FMI e do Banco Mundial, na Turquia. Roberto Setubal e Bill Rodhes, conselheiro sênior do Citigroup, encontraram-se em Istambul, no elegante Suisshotel, às margens do estreito de Bósforo, para as reuniões do Institute of International Finance (IIF), do qual são dirigentes. Isso não significa que conversaram sobre o Banamex. Mas a proximidade de ambos pode ajudar o brasileiro numa eventual negociação.

Talvez seja muito cedo para o Itaú Unibanco dar seu primeiro grande passo fora do Brasil. O problema é que, aqui, as oportunidades de consolidação são escassas. O Itaú juntou-se ao Unibanco, o Santander comprou o Real, e o Banco do Brasil recebeu apoio do governo para, junto com a Caixa Econômica Federal, fortalecer o espaço dos bancos públicos.

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“A estrutura competitiva está muito cristalizada. Houve um adensamento da concorrência”, disse à DINHEIRO o presidente do conselho de administração do Bradesco, Lázaro de Mello Brandão. Os espanhóis, mais do que ninguém, vão brigar pela liderança.

“Eles vêm com mais força. A compra do Banespa, do Real, e a capitalização local mostra que está com predisposição para uma briga forte”, resume Brandão. Antes de fazer o caminho contrário, e buscar novos mercados lá fora, o Itaú Unibanco precisa estar fortalecido.

É isso o que está ocorrendo no processo de integração. “A estrutura que está sendo montada é para atingir o objetivo de expandir o banco de maneira global em pouco tempo”, diz Pérsio Nogueira, analista da Planner Corretora.

“Eles começaram agora e vão facilitar o trabalho futuro. No Exterior, vão precisar estar bem fortalecidos e organizados.” Nesse primeiro ano de fusão, os fatores positivos parecem ter superado os negativos. Em menos de um mês, o organograma foi definido. “Isso foi ótimo para não se correr o risco da criação de feudos”, diz Nogueira.

Após mexer na diretoria e nos cargos gerenciais, a integração foi sendo estendida para as áreas. Corporate, banco de investimento gestora de recursos e private já estão trabalhando juntas. As tesourarias do Itaú, do Unibanco e do Itaú BBA foram unificadas neste último. Os melhores talentos de ambas as casas têm sido aproveitados na nova estrutura e o sistema de remuneração por desempenho, a meritocracia, uma característica mais forte no Unibanco, está sendo aplicado em toda a organização.

As marcas mais fortes serão mantidas. No consumo, predominou a Losango, do Unibanco, em detrimento da Taíi, que foi fechada. No mercado de capitais, prevaleceu o Itaú BBA. A marca Itaú deverá estar em todas as agências de varejo até o fim de 2010. Uma das grandes preocupações do Itaú Unibanco era a sobreposição de clientes dos dois bancos.

No balanço final, os números surpreenderam. Eram comuns somente 7% no private banking, 8% das microempresas, 6% dos cartões de crédito e 5% dos clientes de varejo. Mas nem tudo são flores. Na cobrança de serviços, o Banco Central determinou que prevalecesse por um ano a menor tarifa cobrada entre os dois bancos.

No balanço do primeiro semestre, houve uma queda de 5,5% nessa rubrica. “É um panorama adverso ao do setor bancário, que vem gerando receita com serviços”, diz Jayme Alves, analista de investimentos da Spinelli. A agilidade para as grandes tacadas continua. A associação com a Porto Seguro, em agosto, foi fechada em menos de 10 dias. Certamente, a novela do Banamex será mais comprida, se de fato acontecer.

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