Os militantes do movimento sem-terra de Formosa, no interior de Goiás, receberam uma visita inusitada. Recentemente, desembarcou na cidade o presidente mundial do BankBoston, sétima maior instituição financeira dos Estados Unidos, com ativos de US$ 204 bilhões. O banqueiro se encontrou com os pés descalços goianos para fazer um discurso político raro de ser ouvido na região. Vestido com camisa de mangas arregaçadas, Henrique Meirelles defendeu o controle do déficit público, limites à emissão de reais e outros temas espinhosos de economia, mais típicos de um debate na Febraban do que de um assentamento agrícola. Pré-candidato ao Senado pelo PSDB de Goiás, Meirelles diz que o encontro foi um sucesso. ?Como dizia o Mario Covas, o povo sempre está certo, o que precisa é ter as informações corretas?, diz Meirelles.

Embora ainda não tenha decidido se sairá candidato, Meirelles está em campo para cativar eleitores. Sua campanha está nas ruas, mas em ritmo de teste. Duas vezes por mês, Meirelles viaja dos EUA para São Paulo. Ele trabalha em São Paulo e embarca á noite num jato alugado para dar palestras e participar de encontros políticos em Goiás, nas horas vagas. Na última pesquisa do jornal O Popular, Meirelles apareceu em quinto lugar, com 5,9% das citações. Ele tem até junho para definir a candidatura. Seu futuro dependerá da disposição dos eleitores em aceitar seu discurso típico de banqueiro.

Embora seu lema de campanha seja a criação de empregos, o coração de sua plataforma é o equilíbrio das contas públicas. Como não é a mensagem mais popular do mundo, Meirelles segue a filosofia de Covas e tenta explicar didaticamente seu ponto de vista. Ao iniciar suas palestras, o executivo procura uma dona-de-casa e pergunta o que acontece quando gasta mais do que ganha. Depois de detalhar as conseqüências, Meirelles arremata: ?Vou contar um segredo para vocês: administrar o governo federal não é diferente de administrar sua casa.? Sua dúvida é saber se conseguirá viabilizar a candidatura sem fazer concessões. ?Se concluir que tenho que fazer discurso populista e prometer coisas para as pessoas, não tem sentido me candidatar. Estou muito bem onde estou?, diz Meirelles.

Mesmo se a candidatura não decolar, Meirelles já tomou duas decisões que vão mudar sua vida. A primeira delas é que está deixando seu confortável apartamento na 6a Avenida, em Nova York, e até o fim do ano voltará a morar no Brasil. Ele equipou seu escritório em São Paulo com aparelhos para controlar as 32 filiais do BankBoston espalhadas pelo mundo. ?Já decidi: vou voltar para o calor humano e para o calor dos graus Celsius?, diz Meirelles, que se casou no ano passado com a médica alemã Eva Hatch Missine, que passou a infância no Brasil. Outra decisão é participar do debate político. No banco, comenta-se que, mesmo que não se eleja senador, Meirelles poderá atuar de maneira parecida com a de Robert Rubin, vice-presidente do Citigroup. Porta-voz do Partido Democrata, Rubin foi um dos organizadores da campanha de Al Gore à Presidência. ?Aos 56 anos, poderia estar me preparando para aposentar e jogar golfe em Miami, como os executivos dos EUA, mas vim do Brasil e adoro desafios?, diz Meirelles.