27/09/2013 - 5:30
Os apartamentos no trecho da 5a Avenida que margeia o lado leste do Central Park, em Nova York, estão entre os mais cobiçados endereços residenciais do mundo. Enquanto o Upper West Side é conhecido por ser a região de preferência dos milionários da indústria do entretenimento, como músicos e cineastas, no Upper East Side, onde está localizada a avenida, moram os grandes tomadores de decisão do mundo empresarial. Distante a um quarteirão da Madison Avenue ? onde fica a sede de algumas das mais importantes agências de publicidade do país ?, a 5a Avenida abriga empresários, advogados e publicitários poderosos. Agora um brasileiro entrou na festa, provocando ruídos: o empresário José Auriemo Neto, o Zeco Auriemo, controlador da incorporadora paulistana JHSF.
No coração da metrópole: a mansão de quatro andares comprada pela JHSF, por US$ 32 milhões, foi construída
em 1871 e perdeu a sua fachada original (à esq.). A empresa paulista vai transformá-la num luxuoso prédio
residencial de 14 pavimentos, conforme o projeto abaixo
Conhecido por trazer um novo conceito de alto luxo ao Brasil, com o shopping Cidade Jardim, em São Paulo, e os hotéis da marca Fasano, ele conseguiu aprovação da prefeitura da cidade para construir um prédio residencial de 14 andares, na 5a Avenida. No ano passado, a JHSF pagou US$ 32 milhões por uma mansão de quatro andares no número 815, que foi leiloada com lances a partir de US$ 25 milhões. Desde a aquisição até receber a permissão para reconstruir a edificação, o arquiteto americano Timothy Greer, encarregado de negociar a aprovação, precisou apresentar três projetos para o Comitê de Marcos Históricos, um grupo de aconselhamento ligado ao Conselho da Comunidade 8 de Manhattan, braço da prefeitura.
?É um fato usual?, afirma Sergio Millerman, ex-CEO do Safra National Bank, em Nova York, e atual representante da JHSF nos EUA. ?Aproximadamente 90% dos projetos têm de ser apresentados três vezes à comissão.? No entanto, a proposta de ampliar a construção, nivelando-a com os prédios do lado, e modificar a fachada foi recebida com reservas por quem vive na região. Os moradores alegaram que o projeto seria ?incompatível com as características do quarteirão?. No entanto, mais do que de uma possível descaracterização do lugar, os vizinhos não devem ter gostado da ideia de perder a vista das janelas laterais de seus apartamentos. Nos prédios ao lado moraram poderosos do quilate do banqueiro e ex-vice-presidente americano Nelson Rockefeller, do magnata de Las Vegas Steve Wynn e até do ator Richard Gere.
O senhor do luxo: no Brasil, Auriemo construiu alguns dos principais ícones
do alto luxo, como a rede de hotéis Fasano, da qual detém a marca,
e o shopping Cidade Jardim, em São Paulo. Sua primeira tacada
internacional ocorreu em 2010, com o Hotel Fasano Las Piedras, no Uruguai
Como argumento, os críticos esgrimiam o fato de que o prédio precisava ser preservado por ser o mais antigo do trecho residencial da 5a Avenida entre as ruas 59 e 110, de frente para o parque. Mas a alegação foi considerada frágil, já que o edifício original, finalizado em 1871 com desenho de Samuel A. Warner, um respeitado arquiteto do período, havia sido muito alterado. Na década de 1920, quase toda a ornamentação da fachada foi retirada. ?O prédio terá arquitetura similar à dos edifícios do quarteirão, que são alguns dos melhores que a cidade tem?, diz Millerman. O responsável pelo desenho será o escritório Citterio and Partners, do arquiteto italiano Antonio Citterio. ?Como uma primeira incursão nos EUA, a empresa foi muito feliz. São poucos os bons terrenos disponíveis em Nova York?, afirma Millerman, que vive na cidade que nunca dorme desde 1993.
?Auriemo tem uma visão do negócio muito arguta.? A questão é se, com essa primeira experiência num mercado desenvolvido, a JHSF, que conhece como poucas o consumidor brasileiro de altíssima renda, pretende mesmo se internacionalizar. Sua primeira tacada no Exterior foi construir e administrar, em 2010, o Hotel Fasano Las Piedras, em Punta del Este, no Uruguai. ?A impressão é de que o prédio em Nova York será mais importante do ponto de vista de posicionamento da marca do que financeiro?, diz um analista que cobre as ações da empresa. Outro analista de investimentos de um grande banco de varejo acredita que a JHSF pode estar testando o mercado, assim como fez antes de entrar de vez no negócio de shopping centers de luxo e na área de hotéis. ?No longo prazo, a JHSF pode ser uma marca de projetos globais?, diz.