O gaúcho Rodrigo Teixeira tinha apenas US$ 500 quando se mudou do Brasil para Los Angeles, nos EUA, em 2001. Seu desejo era brilhar em Hollywood. O fato de não ter na época nenhuma experiência em cinema, pois é designer gráfico de formação, não era empecilho. Ele estava disposto a abraçar a primeira chance que surgisse, qualquer uma, para se especializar na área de produção e construir uma carreira de sucesso. 

O que o movia era o desejo de, depois de algum tempo, ter o prazer de sentar numa poltrona de cinema e ver projetado na telona um filme no qual tivesse trabalhado. Dez anos e muitas aventuras depois, o sonho foi mais que realizado. Teixeira exibe no currículo a participação, como diretor técnico de efeitos especiais, em mais de dez longas-metragens, entre os quais O dia depois de amanhã, Sin city, Superman, o retorno e 2012. 

 

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Efeitos especiais: Teixeira trabalhou em produções dos maiores estúdios de cinema dos EUA

 

Além disso, o brasileiro se tornou uma referência internacional em cinema 3D. Ele está em alta conta em Hollywood, aproveitando-se da vereda aberta pelo fenômeno Avatar, filme de James Cameron rodado com essa tecnologia que mostrou para a indústria do entretenimento que a terceira dimensão encanta os olhos dos espectadores e rende muito dinheiro.  ?O Avatar foi um estouro, puxou a indústria?, disse Teixeira à Dinheiro durante o Hollywood Brazilian Film Festival, evento realizado há alguns dias na meca do cinema internacional. ?É muito benfeito porque foi planejado para ser em 3D.?  

 

Ele não participou de Avatar, mas se envolveu com outra megaprodução dessa nova onda tecnológica: Alice no país das maravilhas, do cineasta americano Tim Burton. Lançada em 2010, a obra tem cerca de meia hora de cenas em terceira dimensão dirigidas por Teixeira, que tem 36 anos. ?Foi muito difícil fazer esse trabalho porque se trata de um universo abstrato?, diz. Agora, seu novo desafio se dá ao lado de um dos maiores cineastas da atualidade: ele está na equipe de Hugo Cabret, o primeiro filme em 3D de Martin Scorsese, que será lançado em novembro, nos EUA. 

 

Por conta de questões contratuais, o brasileiro não pode falar sobre esse trabalho. Limita-se a dizer, no entanto, que terá de reconstruir uma Paris do início do século XX, o que exige uma vasta pesquisa fotográfica da capital francesa daquele tempo. ?O que posso dizer é que é um filme grandioso, repleto de efeitos especiais?, afirma. Sua função nesses projetos todos pode ser definida com uma espécie de diretor de fotografia digital ou de iluminação. 

 

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No país das maravilhas: o brasileiro dirigiu cenas 3D em Alice, filme do Tim Burton

 

Nessa atividade, o 3D é um recurso a mais para auxiliar na história que vai ser contada. ?É uma ferramenta que permite que o diretor tenha mais recursos criativos para definir a narrativa do filme?, diz. No caso de Alice, que foi todo rodado em 3D, o diretor Tim Burton pediu que fosse mudada virtualmente a cor do céu em algumas cenas. ?Fazer isso significava mexer em todo o filme, pois exigia redefinir a luz.? Embora bem no começo, o frenesi em torno dessa inovação vai impor mudanças à indústria do cinema de uma forma mais ampla. 

 

As salas de exibição, por exemplo, terão mais um impulso para se transformar em espaços para shows e espetáculos, com transmissões ao vivo de grandes eventos. ?Esses espaços terão uma cara nova. Acredito na experiência social que o 3D vai estimular?, diz. ?Você poderá, nos EUA, assistir à abertura da Copa no Brasil numa tela gigante com a transmissão feita pela Fifa, com uma imagem fantástica à sua disposição.?

 

 

 

Entrevista: Rodrigo Teixeira

 

O 3D é apenas um modismo ou um recurso que amplia os horizontes da indústria de cinema?

O 3D é uma ferramenta. O importante é analisar quando faz sentido utilizá-la numa produção cinematográfica. Tenho minhas dúvidas se é boa ideia usar essa tecnologia numa comédia romântica, por exemplo. Se ela distrair você da história, é sinal de que talvez não se deva utilizá-la.

 

 

A computação hoje é imprescindível no cinema? 

A indústria colocou computador em tudo. Se analisarmos o Alice no país das maravilhas, obra em 3D dirigida pelo Tim Burton, da qual participei, veremos que a engrenagem que faz o filme funcionar é a tecnologia. Não há como criar o universo de Alice, em sete ou oito meses, sem essas ferramentas digitais.

 

 

Isso quer dizer que não há como aproveitar as inovações que surgem durante a fase de produção? 

O difícil é que você não pode trocar as ferramentas no meio da realização do filme. Você faz escolhas que eram perfeitas hoje, antes de iniciar a produção, e daqui seis meses elas não serão tão sensacionais assim. Mas deve-se continuar do jeito como foi programado, porque já se definiu como ele seria feito, contratou-se equipe, etc. Então, conscientemente, sabemos que estamos defasados, mas não há o que fazer.

 

 

Além do cinema, que outros setores estão utilizando o 3D? 

As áreas de óleo e gás, automotiva e militar estão entre as que usam esse recurso  para o desenvolvimento de produtos. Com uma sala projetada para o 3D, é possível ver em detalhes como ficará determinada  peça de um carro ou a perfuração de um poço, por exemplo.

 

Enviado especial a Hollywood