A redução no número de pedidos de seguro-desemprego nos Estados Unidos, divulgada na quinta-feira 24, trouxe mais um alento para o país que ensaia a recuperação econômica, depois dos anos turbulentos de 2008 e 2009. 

O desemprego recua, ainda que lentamente, com o aumento da produção industrial, que fechou 2010 com uma alta de 1,2%, após uma queda de 9,7% em 2009. Cerca de um milhão de pessoas voltaram a trabalhar desde janeiro do ano passado, mas o total de 13,6 mi-lhões de desempregados ainda representa o dobro do existente em 2007. 

 

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Obama, entre Steve Jobs, da Apple, e Zuckerberg, do Facebook: ideias para aumentar investimentos em pesquisa e

desenvolvimento e incentivos para que as empresas absorvam a mão de obra desempregada

 

Medidas como a redução de impostos e incentivos fiscais foram responsáveis por esse respiro no ano passado. Mas o que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, vislumbra como uma saída consistente para os problemas de seu país é o investimento maciço em inovação, tradição que acompanha a história do empreendedorismo americano.

 

Foi exatamente esse o tema do encontro do último dia 18 com 12 presidentes de empresas de tecnologia, entre eles o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, o executivo-chefe do Google, Eric Schmidt, e Steve Jobs, o criador da Apple. 

 

Na mesa, projetos de pesquisa e desenvolvimento e incentivos para que as empresas ampliem a contratação de pessoal, na linha do mantra de Obama repetido semanas antes no Congresso: “O primeiro passo para ganhar o futuro é encorajar a inovação.”

  

O presidente propôs a redução de US$ 1,1 trilhão no déficit fiscal num prazo de dez anos. O problema é que, com minoria na Câmara e maioria no Senado, os democratas, partidários de Obama, precisam reverter a intenção dos republicanos de acionar a tesoura sobre projetos de inovação, considerados por eles como gastos. 

 

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O governo tenta sensibilizar a oposição dizendo que os Estados Unidos vivem “o momento da geração Sputnik”, em referência à corrida espacial de 50 anos atrás, quando o país competia com a antiga União Soviética pela soberania mundial. Os soviéticos saíram na frente, lançaram  ao espaço o satélite Sputinik. 

 

Mas os americanos conseguiram superá-los tempos depois chegando à Lua. Para realizar tal façanha, investiram pesadamente em pesquisa científica e educação, que criando novas indústrias e milhões de empregos. A União Soviética atual chama-se  China e está perto de se tornar o segundo país em investimento em pesquisa e desenvolvimento, ultrapassando o Japão.

 

As boas intenções do democrata Obama esbarram, entretanto, no campo minado dos republicanos. 

“É quase como tentar um consenso entre xiitas e sunitas”, diz o economista da universidade de Columbia, Thomas Tebat. 

 

A crise nos países árabes, que fez o preço do petróleo disparar, também configura uma ameaça tanto para os planos de longo prazo do presidente como para a frágil recuperação da economia, pois os Estados Unidos importam mais da metade do petróleo que consomem, lembra Albert Fishlow, outro economista de Columbia. 

 

Fishlow, porém,  reconhece que a iminência de um conflito de maiores proporções na Líbia pode até facilitar a relação de Obama com o Congresso, ao menos no que diz respeito aos cortes orçamentários deste ano. 

 

“No próximo dia 4, uma proposta de corte de gastos de US$ 62 bilhões dos republicanos para este ano será avaliada pelo Senado, que tentará preservar um pouco mais de recursos .” Para Fishlow, o grande teste será mesmo em outubro, quando o Congresso votará as prioridades para a economia no longo prazo. 

 

Os empresários americanos também estão participando dos debates, particularmente em relação à inovação. “Ela tem um papel chave na nossa retomada”,diz Shawn Dubravac, que lidera a associação das empresas de tecnologia para consumo. 

 

Uma pesquisa da National Association for Business Economics (Nube) do mês passado mostrou que as empresas do setor estão otimistas e, inclusive, dispostas a investir mais neste ano. O economista Thomas Tebat, no entanto, vê o entusiasmo do setor empresarial com ressalvas. 

 

“Temo que os apelos de Obama caiam em ouvidos surdos”, diz ele. A expectativa agora é saber até que ponto o passado glorioso do país será capaz de induzir a oposição a apoiar uma política mais ousada, que preserve a liderança americana no campo da criatividade e da inovação, motores do seu crescimento.