De camisa xadrez, cabelos brancos levemente despenteados, sorriso no rosto e, claro, uma taça de Freixenet nas mãos, o catalão Pedro Ferrer, CEO da marca produtora de cava, um espumante típico espanhol, recebe a DINHEIRO em um restaurante tipicamente espanhol de São Paulo. O almoço é regado com porções a perder de vista, como o pão com tomate, embutidos nas suas mais variadas formas e frutos do mar, tudo para contar os planos de expansão no Brasil da empresa fundada há um século e meio. Ferrer diz, em seu português carregado de sotaque, que o Brasil é o seu 13º maior mercado consumidor.

A Freixenet produz 180 milhões de garrafas de espumante, anualmente, e as distribui em mais de 150 países. “Nos últimos cinco anos, conseguimos crescer 225% em vendas no mercado brasileiro”, afirma o empresário, integrante da quarta geração da família no comando da empresa. “A ideia é crescer ainda mais.” Atualmente, a Freixenet vende 840 mil garrafas no País, por ano, e esse número deve aumentar de maneira significativa nos próximos três anos. Isso porque a expectativa é de que até 2017 sejam produzidas 600 mil garrafas anuais de seu espumante, o XB, envasado em parceria com a gaúcha Miolo, e que estará no mercado a partir de junho por R$ 42 – preço mais competitivo do que a média de R$ 60 cobrada pela bebida espanhola.

Elaborado através do tradicional método champenoise e envelhecido em garrafa por nove meses, o XB leva em sua composição 50% da uva chardonnay e 50% da uva pinot noir, e é desenvolvido a quatro mãos pelo enólogo espanhol José Montilla, da Freixenet, e pelo português Miguel de Almeida, da Miolo. Para atender o público nacional, já estão circulando 60 mil garrafas da bebida pelas grandes metrópoles do País desde o início deste mês. “O objetivo é estreitar ainda mais o relacionamento com os consumidores brasileiros”, diz Ferrer, em meio a goles de cava, bebida que afirma saborear todos os dias em Barcelona, onde vive.

“Ela combina com quase todos os tipos de prato.” Assim como o champanhe só tem direito a essa denominação se for produzido na região homônima da França, cava também é um título exclusivo da Espanha, obrigatoriamente fabricado com as uvas parrelada, xarelo e macabeo. O problema para a Freixenet, que limitava suas vendas no Brasil, é que uma garrafa do Cordon Negro, um dos mais tradicionais do portfólio da Freixenet, que custa em média R$ 30, ao desembarcar no Brasil tinha seu preço duplicado.

A saída, então, para conquistar mais consumidores locais foi a celebração de uma aliança com a vinícola gaúcha, conhecida por seus espumantes, o que lhe permitiria praticar um preço mais competitivo, uma vez que não precisaria pagar as taxas de importação. Segundo João Roquette, proprietário da Importadora Qualimpor, distribuidora da marca no Brasil, a estimativa é de que o XB também impulsione as vendas não apenas de cavas clássicos da Freixenet, como o Carta Nevada e o Cordon Rosado, mas também dos da linha premium, como o Vintage, o Reserva Real e o Elyssia.

“Antes da parceria com a Miolo, nossa projeção de crescimento no País era de 15%”, diz Roquette. “Com o XB, apostamos em expansão superior a 20% neste ano.” Nesse modelo de negócio, a Miolo faz o papel de fabricante, que adota as fórmulas e técnicas de produção fornecidas pela Freixenet. O mercado de espumantes elaborados no Brasil tem crescido de maneira significativa e vem incomodando as marcas estrangeiras. Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), a comercialização de espumantes no Rio Grande do Sul passou de 5,5 milhões de litros, em 2004, para 13,2 milhões de litros, neste ano.

A boa reputação da bebida brasileira é o que explica esse crescimento. Os produtores nacionais de espumantes, tanto os do Vale dos Vinhedos, no Rio Grande do Sul, quanto os do Vale do São Francisco, na Bahia, conquistaram respeito internacional. Não por acaso, o País já ganhou mais de 1,5 mil medalhas internacionais em concursos da bebida. “Estamos unindo nossa experiência em cava com a qualidade do espumante brasileiro”, afirma Ferrer. “Com essa fórmula, a Freixenet tem tudo para dar certo.”