Na maioria das vezes que se apresenta a alguém ou liga para uma empresa, o paulista Bruno Antonio Caloi Jr., mais conhecido como Tito Caloi, ouve uma pergunta padrão: “Tito, da Caloi?”. É bem verdade que ele trabalhou na empresa. Só que nos 20 anos em que deu expediente na fábrica de bicicletas fundada em 1898 pelo seu bisavô Luigi Caloi, ele foi muito mais que um simples funcionário. Tito era o braço direito do pai, Bruno, e o ajudou a transformar a companhia em uma das dez maiores fabricantes do mundo. O auge ocorreu na década de 1990, quando a Bicicletas Caloi obteve faturamento de US$ 300 milhões com a venda de dois milhões de unidades. Hoje, aos 54 anos, o empreendedor busca retomar o espaço da família no setor do qual saiu em 1999, quando vendeu o negócio para o empresário Edson Vaz Musa, ex-presidente da Rhodia no Brasil. 

 

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Tito Caloi, dono da Tito Bikes: ”A bicicleta faz parte do meu DNA”.

 

“A bicicleta faz parte de meu DNA”, afirma Caloi. O recomeço se dá em bases muito mais modestas. Em 2009, o empresário enxergou a oportunidade de voltar a fabricar bicicletas. Desde então, ele já investiu R$ 7 milhões e criou a Tito Bikes. Para recomeçar, o empreendedor buscou a parceria dos cinco maiores times de futebol de São Paulo, imprimindo nas magrelas as cores e os distintivos de Palmeiras, Corinthians, São Paulo, Santos e Portuguesa. Esses modelos abriram as portas de uma importante rede varejista de produtos esportivos: a mineira Centauro, do grupo SBF. A Tito Bikes também fechou um acordo para produzir bicicletas para a marca Taeq, linha de vida saudável do Grupo Pão de Açúcar, vendidas na rede de supermercados Extra. 

 

Agora, três anos depois de recomeçar no mercado de bicicletas, Caloi prepara o passo mais ousado de sua nova fase. Com o lançamento da linha Urban (urbano, em português), ele espera tirar vantagem do crescente interesse pelo ciclismo, especialmente nas grandes capitais do País. A meta é vender 25 mil unidades neste ano, volume três vezes maior que o obtido pela Tito Bikes em 2011. Com isso, ele espera ampliar em 20% o faturamento de R$ 45 milhões da companhia, cujo carro-chefe ainda são peças e componentes para as fabricantes do setor. São números, sem dúvida, pouco expressivos em um setor no qual são comercializadas cerca de cinco milhões de unidades por ano e é liderado pela piauiense Houston, do grupo Claudino, e pela Caloi, que ainda está nas mãos da família Musa. 

 

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Prestígio: sob o comando de Bruno Caloi, pai de Tito, a empresa

se tornou uma das maiores do mundo.

 

Caloi, por razões óbvias, evita comparações com o passado. “Os tempos são outros”, diz o empresário. “Estou recomeçando do zero, mas com uma proposta diferenciada em relação à concorrência.” Sem recursos para brigar com as gigantes, Caloi pretende concentrar seus esforços nos consumidores das faixas mais elevadas da pirâmide de consumo. Os modelos da Tito Bikes, que compõem o portfólio Urban, custam entre R$ 450 e R$ 700. Valor mais que o dobro do cobrado pelas magrelas convencionais. Tamanha diferença se deve ao fato de 60% dos componentes serem importados. Além disso, a estrutura da magrela é feita em alumínio. Seu desenvolvimento envolveu cerca de 20 técnicos, entre engenheiros e designers. 

 

A base produtiva da Tito Bikes é a pequena fábrica de peças e componentes em Mococa, a 270 quilômetros de São Paulo, que ficou sob o controle da família, após à venda da Caloi. Lá, Tito montou seu “bunker” e chegou até mesmo a fornecer para a Caloi. O retorno do empresário ao setor, cujo sobrenome se confunde com o produto fabricado pela família, ocorre em um momento no qual as bicicletas estão em alta no mundo inteiro. “O perfil do usuário está mudando”, diz José Eduardo Gonçalves, diretor-executivo da Abraciclo, entidade que reúne os fabricantes de veículos de duas rodas. “Agora, são os brasileiros de maior poder aquisitivo que olham a bicicleta como uma opção de transporte e lazer.”

 

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