26/02/2010 - 8:53
A adesão aos princípios da sustentabilidade socioambiental se tornou uma espécie de mantra para a maioria dos executivos de corporações públicas e privadas. Só que o discurso nem sempre se traduz em medidas efetivas. A rede varejista americana Walmart, a maior do planeta, decidiu mudar essa escrita e está incentivando empresas de todos os portes a aderir à cruzada verde.
Seu principal instrumento é o índice de sustentabilidade, uma espécie de ranking que irá listar as marcas mais comprometidas com esse conceito. A mensagem será repassada aos consumidores por meio de etiquetas afixadas nas gôndolas de seus 8.416 pontos de venda espalhados pelo planeta. Desde a matriz, em Bentonville (Arkansas), até o Brasil.
A primeira etapa do projeto, lançado em meados de 2009, acaba de ser cumprida. Trata-se da aplicação de um questionário, contendo 15 perguntas, que foi submetido aos mil maiores fornecedores da rede nos Estados Unidos. As respostas estão sendo analisadas por um consórcio formado por acadêmicos, ambientalistas e empresários, sob a coordenação da Universidade de Arkansas (EUA). Caberá ao comitê formatar um índice que poderá ser usado por qualquer empresa.
A ideia do Walmart, porém, suscita algumas questões. A principal delas é em relação ao relacionamento entre fornecedores e a rede varejista. Matt Kistler, vice-presidente global de sustentabilidade do Walmart, deixa claro que a companhia pretende quebrar paradigmas. ?Queremos criar um novo patamar de competição, em um nível jamais visto?, disse em recente entrevista à revista americana Fast Company.
É bom não duvidar. Com uma receita líquida global de US$ 401,2 bilhões, o poder de fogo do Walmart é maior do que o de muitos países. Seu volume de aquisições atinge US$ 100 bilhões por ano. Sua política de compras incentivou fusões, como a da Procter&Gamble com a Gillette. Sua estratégia de fixação de preços tem tamanho impacto na economia que conseguiu, nos anos 1990, reduzir em 1% a inflação anual americana.
E mais: 12% de todo o ganho de produtividade obtido pelo país, na década de 1990, pode ser creditado à empresa fundada por Sam Walton. ?O tamanho e a importância do Walmart fazem com que as causas que ele abraça se tornem realidade?, destaca Fernando de Almeida, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds).
A entidade, aliás, é uma das parceiras na cruzada verde da rede varejista. Para o dirigente, iniciativas como a do Walmart têm, muitas vezes, um poder maior que leis e regras editadas por organismos governamentais. ?A mensagem é simples: quem não se adequar não vende para o maior comprador do mundo?, resume Almeida.
Um movimento semelhante começa a acontecer no Brasil. Antes mesmo da elaboração do Índice de Sustentabilidade, previsto para ser concluído apenas em 2014, os executivos brasileiros estão tentando catequizar fornecedores. No início de 2010, a rede anunciou um acordo com nove companhias globais que criaram produtos sustentáveis para serem oferecidos nas gôndolas da rede no Brasil.
Uma das que aderiram foi a Colgate-Palmolive, que fez uma versão ecológica de seu desinfetante Pinho Sol, com embalagem feita de resina reciclada e rótulo com papel de floresta certificada. ?Apostamos nesse conceito muito antes de ele virar um modismo?, destaca Vânia Otoboni, diretora comercial da Colgate-Palmolive.
?Trata-se de uma forma de incentivar as empresas na transição para o Índice de Sustentabilidade que o Walmart pretende criar?, explica Christianne Urioste, diretora de sustentabilidade do Walmart Brasil. A filial local também está apostando na construção de lojas ecoeficientes, nas quais o consumo de energia e água é, respectivamente, 25% e 40% menor em relação às convencionais.