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ESTEVES E JENKINS, NA VENDA DO PACTUAL: o primeiro está em Londres, o segundo foi abatido na crise do subprime

Repare na foto ao lado. Tirada no dia 9 de maio de 2006, era a cena de um casamento. De um lado, um sorridente André Esteves, que acabava de vender o Pactual para o UBS por US$ 3,1 bilhões. De outro, Huw Jenkins, que comandava a área global de banco de investimentos do UBS. Naquele momento, Esteves era quase desconhecido. Mas o negócio com os suíços, além de projetá-lo como um dos mais audaciosos banqueiros brasileiros, também fez sua carreira deslanchar. Há menos de um ano, ele se mudou para Londres, assumiu a área global de renda fixa do UBS e passou a gerir nada menos que US$ 2 trilhões em ativos. Nenhum brasileiro jamais havia chegado tão longe no sistema financeiro mundial. Tudo parecia perfeito e ele vinha sendo cotado até para vôos mais altos no UBS. Nas últimas semanas, no entanto, surgiram diversos problemas. Jenkins não está mais no UBS ? foi abatido pelo rombo do subprime, que fez o banco suíço perder US$ 14 bilhões. Além disso, especulou-se que Esteves voltaria ao Brasil depois de tentar uma aposta ousada: a recompra do Pactual, com a ajuda de Jorge Paulo Lemann, ex-Garantia.

O quadro ainda é indefinido. Esteves deverá continuar em Londres, segundo informou à DINHEIRO Rohini Pragasam, da área de comunicação do banco suíço. Isso não impede que ele também passe boa parte do seu tempo em Nova York e em São Paulo ? afinal, o banqueiro continua à frente da operação brasileira. A diferença é que, agora, ele terá de se entrosar com Jerker Johanson, que foi convidado para assumir o banco de investimentos do UBS, justamente no lugar de Huw Jenkins. Numa indicação que a dupla poderá trabalhar unida, a revista britânica The Economist publicou nesta semana um artigo sobre os dois, indicando-os como ?salvadores do UBS?. Além disso, Esteves não chegou a fazer uma oferta formal de recompra do Pactual. Teria havido apenas uma sondagem, no momento em que o banco suíço estudou formas de capitalização ? no próximo dia 27, a assembléia de acionistas deverá aprovar a entrada de fundos de Cingapura e do Oriente Médio no bloco de controle. Mas o clima anda tão nebuloso em Genebra que, na noite da quinta-feira 21, o jornal britânico Financial Times noticiou que o chairman do banco, Marcel Ospel, poderia ser demitido. Além disso, o executivo italiano Sérgio Marchionne, que resgatou a Fiat, foi convidado para ser vice-chairman do banco. Ou seja: tudo pode mudar a qualquer momento.

O papel de André no UBS permanece o mesmo
ROHINI PRAGASAM, PORTA-VOZ DO BANCO

Uma turbulência dessa magnitude criou desafios adicionais para Esteves. E fez também com que ele tivesse de aparar arestas internas, porque há um contraste entre a boa situação da filial brasileira e a que é enfrentada lá fora. No Brasil, 2007 foi espetacular para o UBS Pactual. O banco fez aberturas de capital de US$ 7 bilhões e, embora tenha ficado atrás do Credit Suisse em volume, foi líder em número de operações ? 33 ao todo. Mas, no início deste ano, especulou-se que não haveria distribuição de bônus aos sócios brasileiros, em função dos prejuízos internacionais. Diplomático, Esteves resolveu o problema, todos os bônus foram pagos e não houve uma só deserção no Brasil. Agora, comenta-se que alguns sócios deixarão o banco em 2011, quando termina o chamado de retenção ? o pagamento integral pelas ações do Pactual prevê a permanência deles por cinco anos. Rumores desse tipo são naturais no mundo financeiro. Mas o fato é que tudo dependerá dos resultados que vierem a ser gerados daqui para a frente. Assim como nos casamentos, essa crise ? que não é pequena ? também pode ser passageira.