15/12/2010 - 21:00
A crônica corporativa está repleta de histórias sobre casos de profissionalização de gestão de empresas que acabam malsucedidos. Os motivos são diversos e incluem desde a incapacidade da família em trabalhar sob a batuta de um forasteiro, até mesmo a disputa de poder. Em outros tantos casos, contudo, esse processo é bem-sucedido. A partir de 1º de fevereiro de 2011, a família Jereissati terá a chance de descobrir se ela se enquadra no primeiro ou no segundo grupo. É que nessa data o empresário cearense Carlos Jereissati, 64 anos, cederá a cadeira de CEO para Fernando Morgado Portella.
Caberá a ele dirigir os destinos de um grupo que possui participação acionária em companhias como Oi (telecomunicações), Contax (telemarketing), Iguatemi (shopping-centers) e Grande Moinho Cearense (alimentos) que, juntas, faturaram R$ 48,2 bilhões em 2009.
Engenheiro agrônomo de formação, Portella fez diversos cursos de gestão no Brasil e nos Estados Unidos. Em 35 anos de carreira, ele se tornou um especialista na condução de grupos familiares.
Seu currículo inclui passagens pelo Grupo O Dia (da área de mídia) e o Citibank. Como sócio da Gemini Consulting, ele realizou trabalhos de reestruturação para a British Telecom, em Londres, e a GM, em Detroit (EUA).
Em 2004, Portella foi contratado para ajudar na reestruturação das Organizações Jaime Câmara (OJC), a maior empresa de mídia do Centro-Oeste. Acabou sendo contratado como CEO, cargo que ocupa até hoje.
Procurado por DINHEIRO, Portella limitou-se a dizer que não iria falar sobre seu futuro, porque ainda está ligado à OJC. A família Jereissati, por sua vez, não quis se pronunciar sobre as mudanças na estrutura de seus negócios.
Algumas questões, no entanto, se destacam. Como gerir uma companhia com forte cultura familiar na qual, muitas vezes, decisões estratégicas são discutidas nos almoços de domingo? Os herdeiros, que sempre apitaram no grupo, conseguirão obedecer um forasteiro?
“A nova realidade da empresa e a definição das atribuições de cada integrante precisam ser colocadas no papel”, diz Leonardo Viegas, conselheiro do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa.
“O desconforto em uma situação dessas é inevitável. E, muitas vezes, o CEO cai porque é sabotado por um ou mais integrantes da família”, opina Domingos Ricca, sócio-diretor da DS Consultoria.
Para Ricca, Portella tem grandes chances de repetir no Grupo Jereissati o que fez em outras companhias. “Ele possui experiência e, ao que parece, consegue administrar os problemas relacionados à vaidade humana”, completa Ricca.
Decerto, Portella não será um estranho no ninho. Hoje ele atua nos conselhos de administração da Oi e da Iguatemi Empresa de Shopping Centers, joias da coroa do Grupo Jereissati.