02/11/2011 - 21:00
Os chefs Oscar Bosch e Bia Dias – ele espanhol, ela paulistana – desembarcaram no Brasil há pouco mais de um ano com uma ideia fixa em mente: montar uma empresa de personal chef no País, um serviço ainda pouco difundido por aqui. Em outros tempos, o plano do casal soaria como insensatez, principalmente por Bosch se tratar de um profissional que está há três gerações na alta gastronomia europeia e já trabalhou em casas premiadas internacionalmente, como os restaurantes espanhóis El Bulli e El Celler de Can Roca e o belga Hof Van Cleve. A ideia, no entanto, hoje faz todo o sentido. O crescimento da economia brasileira e a estagnação na Europa e nos Estados Unidos têm impulsionado a consolidação desse pouco explorado nicho. “Quando eu disse para meu pai, que também é chef, que viria para o Brasil montar meu próprio negócio, levei um sermão”, diz Bosch. “Agora, passado o susto, ele entende e aprova a minha decisão.”
“Antigamente, o preço era impeditivo porque havia poucos profissionais. Hoje, o custo é muito atraente”
Rosa Branca, chefe de cozinha
A aprovação da família Bosch à aventura de Oscar e Bia no mercado brasileiro ficou mais visível depois que os negócios começaram a prosperar. Hoje, no comando da empresa CookMe, o casal tem uma seleta relação de clientes pessoais – que apreciam a alta gastronomia e não abrem mão do conforto da própria casa – e corporativos, como Nestlé, Contax, Uol e o banco português Caixa Geral. “Já soube de empresas que conseguiram fechar grandes contratos com mais facilidade, tamanha a boa impressão causada por um jantar sofisticado oferecido na própria sala de reuniões da companhia”, afirma Bia. “Nossos principais clientes são empresários e executivos que querem impressionar os convidados, e muitos deles afirmam que nosso serviço é um aliado importante de seus negócios.” Coincidência ou não, o fato é que a personalização da alta gastronomia com os personal chefs tem crescido a passos largos.
Além de oferecer um serviço que é visto como novidade e propor um cardápio ajustado ao perfil de cada cliente, seus preços também estão cada vez mais customizados. Ter acesso a tais serviços por uma noite, para grupos de até 25 pessoas, custa entre R$ 140 e R$ 180 por pessoa, em média – sem contar o custo dos ingredientes, das bebidas e da decoração, se houver. “Antigamente, o preço era impeditivo, porque havia poucos profissionais”, diz a carioca Rosa Branca, personal chef de um banqueiro paulista há quase dois anos. “Tanto para quem contrata por apenas uma noite quanto para quem fecha um pacote mensal, o custo é muito atraente.” Preços à parte, o charme de ter um chef só para você é o que tem nutrido esse mercado promissor. Diferentemente do que acontece num restaurante, o freguês pode optar por fazer as compras ou deixar a cargo do cozinheiro contratado, utilizar a própria louça ou, se preferir, alugá-la. Durante o evento, o mestre-cuca de luxo usa a cozinha e os utensílios do proprietário da casa, e pode trocar ideias e experiências com os convidados do banquete.
Bia dias e Oscar Bosch: o casal trocou restaurantes tradicionais na Espanha para investir no mercado de personal chef no País
“O diferencial fica exatamente por conta deste estilo mais caseiro, afetivo e privado dos jantares com os amigos”, diz Bosch. “Nossa função é preparar comidas sofisticadas que revelem, com equilíbrio, um certo carinho e cuidado na escolha de todos os detalhes.” Os argumentos dos chefs vão ainda além. As refeições feitas por um personal chef não são, necessariamente, definidas pelo profissional. “Oferecemos algumas opções, como pratos que já são nossa especialidade, mas deixamos o cliente decidir o que ele quer comer e oferecer para seus convidados”, diz Michelle Vaccaro, personal chef de Curitiba. “Assim, não corremos o risco de cometer a gafe de servir carne vermelha, por exemplo, para um potencial cliente que seja da Índia, onde o boi e a vaca são considerados animais sagrados.” Meses atrás, Michelle incrementou seu serviço de personal chef: passou a atender clientes em viagens curtas, nas quais comanda a cozinha de casas de veraneio.
Em dezembro, ela embarcará para uma fazenda na serra catarinense para atender, durante 15 dias, um casal de executivos alemães que pretende passar as férias no Brasil, junto com a família que mora em Santa Catarina há 20 anos. Michelle receberá R$ 12 mil para preparar a mesa de café da manhã, o almoço e o jantar para um grupo de 20 pessoas. “Teremos sobre a mesa de tudo um pouco, com quitutes bem brasileiros e tradicionais aperitivos alemães”, diz a chef curitibana. “Eles adoraram essa versatilidade.” Atualmente consultora de restaurantes de luxo, a chef Lelena César, de São Paulo, já viveu essa experiência três anos atrás. Ela foi convidada pelo apresentador Luciano Huck para cozinhar para ele e a mulher, a também apresentadora Angélica, em sua ilha particular, durante três semanas de férias. “Ser personal chef foi uma experiência sensacional”, diz Lelena. “Aprendemos a entender melhor que todo cliente, celebridade ou não, gosta de fugir do óbvio e estar sempre próximo do aconchego.”