Ele já foi chamado de cachorro engarrafado, pelo poeta Vinícius de Moraes, por ser companheiro, mesmo que volátil. Está sempre ao lado do homem de negócios bem-sucedido, nos momentos de relax. Na verdade, funciona quase como um confidente, que é acionado ao final de cada jornada. Não, não se trata de exagero: não é preciso nenhuma pesquisa quantitativa para comprovar que o uísque é a bebida preferida do mundo corporativo, nos momentos de deleite e na celebrada happy hour. 

Pois esse companheiro diário, mais usado como aperitivo, pode ser convocado para uma tarefa tão nobre quanto relaxar: entreter os convidados à mesa. O chef escocês Tom Kitchin, que esteve no País em maio, ensinou a utilizar a bebida em substituição ao vinho, durante uma refeição completa. Seus ensinamentos puderam ser apreciados em jantares fechados por brasileiros privilegiados, entre eles alguns empresários. 

 

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Fome de bola: o escocês se encantou com o estádio do Pacaembu, em São Paulo,

e com o mix dos ingredientes brasileiros com o uísque da sua terra

 

O segredo, segundo Kitchin, que foi o mais jovem chef de seu país a receber uma estrela do prestigiado guia Michelin, é usar ingredientes nas receitas que tenham as mesmas características da bebida. “No uísque identificamos sabores e aromas que estão presentes em vários pratos, como o defumado, a madeira e o doce do mel”, diz Kitchin, nascido em Edimburgo há 30 anos. “É uma bebida tão complexa quanto os bons vinhos que acompanham, com mais frequência, os menus.”  

 

Apaixonado pela experiência, um dos princípios básicos da alta gastronomia, o escocês incita os gourmets e gormands brasileiros a se aventurarem entre caçarolas e inventar seus pratos para serem acompanhados de uísque. Claro que, como toda técnica precisa, a culinária tem seus princípios. Inclusive no que tange à harmonização. “Não recomendo degustar sushi nem sashimi com uísque”, afirma o chef, cujo restaurante, Kitchin, só aceita reservas após novembro deste ano. “Cozidos de carne bem substanciosos, massas e até sopas frias e saladas podem ser acompanhados da bebida.” 

 

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Detalhe: ele só reconhece como uísque aquele produzido na Escócia. “Sou muito patriota nessa hora. É como comparar um jogador britânico com qualquer outro”, diz. “O esporte nasceu no Reino Unido.”  Não se trata de mera fanfarronice: quando a conversa envereda tanto para o scotch whisky quanto para o “esporte bretão”, Kitchin realmente veste a camisa de súdito da rainha Elizabeth II, travando discussões calorosas. 

 

O empresário Celso Martins, dono da franquia da fabricante  de móveis gaúcha FCA, em Brasília, há 48 anos bebe seu uísque no fim do dia. Caubói ou com pedras de gelo. Recentemente, Martins e sua mulher, a decoradora Moema Leão,  foram apresentados a esse tipo de harmonização. “Achei uma combinação muito interessante e tive uma boa impressão”, diz Martins, que achou campeã a combinação de uísque com carne. “O fato de o uísque ser harmonizado com a refeição pode levar pessoas que não estão acostumadas a bebê-lo a passar a apreciá-lo.” É o caso da mulher do empresário. “Agora vou ter companhia para beber meu uísque de cada dia”, afirma Martins.