26/05/2021 - 19:13
As farmácias poderão ter em breve em suas prateleiras remédios com eficácia comprovada contra a covid-19?
Depois das vacinas, as companhias farmacêuticas estão agora na corrida para desenvolver um tratamento que possa ser tomado em casa com um copo d’água quando os sintomas aparecerem.
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Porque embora prevenir seja melhor do que remediar, como diz o ditado, saber tratar continua sendo crucial.
– O que é um antiviral? –
Já existem antivirais para outros vírus, como o HIV, causador da Aids, e da gripe.
No começo da pandemia, o financiamento e as pesquisas se concentraram no desenvolvimento das vacinas, o que explica em parte o atraso no desenvolvimento de antivirais contra o coronavírus.
“Os vírus são pequenas máquinas que precisam de certos componentes para se replicar”, explica Daria Hazuda, bioquímica que trabalha há anos nestes tratamentos.
“Os antivirais costumam ser pequenas moléculas químicas, desenvolvidas para interferir neste maquinário”, diz.
“Eles introduzem uma mutação no vírus e quando isto ocorre várias vezes, estas mutações reduzem a capacidade do vírus de se replicar”, acrescenta.
Ao conter a doença, pode-se evitar os casos graves, as hospitalizações e as mortes.
– Os projetos em andamento –
Atualmente há dois projetos relativamente avançados, aprovados em mais de mil pessoas.
O primeiro é o do laboratório farmacêutico americano Merck, em associação com a empresa de biotecnologia Ridgeback Biotherapeutics. O produto se chama Molnupiravir.
Desenvolvido inicialmente para tratar a gripe, foi modificado para que possa ser tomado na forma de comprimido, que deve ser ingerido duas vezes ao dia por cinco dias.
O tratamento tem sido muito bem tolerado pelas poucas centenas de pessoas que já o receberam. Exames de várias dezenas delas mostraram que o vírus já não era detectável depois de cinco dias para todos os tratados com Molnupiravir, mas ainda era detectável em 26% do grupo placebo.
Os resultados dos testes em outros 1.450 adultos são esperados para o outono.
O segundo projeto é da empresa farmacêutica suíça Roche, em colaboração com a empresa americana Atea Pharmaceuticals.
Denominado AT-527, o tratamento está sendo testado com 1.400 participantes na Europa e no Japão, desta vez a partir dos 12 anos.
“Esperamos solicitar a aprovação dos reguladores no final do ano e lançar o medicamento em 2022”, disse à AFP o diretor-geral da Atea, Jean-Pierre Sommadossi.
Um terceiro projeto, menos avançado, é desenvolvido pela Pfizer.
Diferentemente dos demais, o tratamento, denominado PF-07321332, foi desenvolvido especificamente contra o Sars-CoV-2, vírus causador da covid-19. Está sendo testado em cerca de 60 adultos e os resultados são esperados no fim de junho.
– Um desafio: ser ingerido rapidamente –
Tanto a Merck quanto a Roche exigem que o medicamento seja tomado nos cinco dias seguintes ao aparecimento dos sintomas.
Isto se deve a que o vírus se replica mais durante a primeira semana.
“Quanto antes se tratar com um antiviral, melhor será o resultado”, diz Daria Hazuda, que dirige a pesquisa sobre o medicamento da Merck.
Isso explica o relativo fracasso do Remdesivir, o único antiviral contra a covid-19 aprovado até agora. Produzido pelo laboratório americano Gilead Sciences, deve ser tomado por via venosa no hospital.
Isso significa que os pacientes estarão com a doença em estágio muito avançado para obter algum benefício real.
Uma vez que os comprimidos estiverem disponíveis, o principal desafio será diagnosticar os pacientes precocemente.
– Benefícios: prevenção e variantes –
Mas estes antivirais também deveriam poder ser usados na prevenção: por exemplo, quando o membro de uma família se infecta, os demais podem tomar o tratamento para evitar desenvolver a doença.
Por último, especialistas confiam na capacidade dos antivirais para continuar sendo eficazes contra as variantes, assim como contra outros coronavírus, inclusive, potencialmente alguns ainda desconhecidos.
Esta é uma vantagem significativa sobre outro tratamento existente, os anticorpos sintéticos.
Além de ser restritivos porque são injetados por via intravenosa, os anticorpos são muito específicos para o vírus que combatem, e portanto é pouco provável que sejam eficazes contra futuros coronavírus.