A cerimônia de posse da nova diretoria da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), na noite da segunda-feira 25, teve uma presença, digamos, inusitada. Quem estava escalado para representar a presidente Dilma Rousseff era o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro (o evento constava na agenda oficial do ministro). Ex-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Monteiro estaria “em casa” ao lado dos representantes das montadoras. Porém, um imprevisto impediu a sua participação e o seu substituto foi o ministro da Defesa, Aldo Rebelo.

Filiado ao PCdoB desde 1977, Rebelo tem no currículo discursos e projetos nacionalistas, incluindo o combate ao uso de estrangeirismos na língua portuguesa e a substituição do Halloween (Dias das Bruxas) pelo Dia Nacional do Saci-pererê, em 31 de outubro. Com esse perfil, não é difícil imaginar que um ambiente empresarial dominado por multinacionais não seja o local em que o ministro se sinta mais confortável. 

Para quebrar o gelo, Luiz Moan, que encerrou o seu mandato na Anfavea e passou o bastão para Antonio Megale, brincou com o fato de o time de coração do ministro, o Palmeiras, ter sido eliminado do Campeonato Paulista, no fim de semana. E seguida, lembrou que Rebelo, ao ocupar a pasta da Ciência e Tecnologia no ano passado, já havia debatido o futuro do setor automotivo em diversas reuniões. Moan tentou assim passar a imagem de que Rebelo não era exatamente um estranho naquele ninho. Mas era. 

No seu discurso, o ministro até fez uma ponte entre a inovação e o setor automotivo. Porém, a sua veia comunista ficou evidente quando ele destacou que, no século passado, possuir um carro era privilégio da elite, que se reunia em clubes automotivos exclusivos. Sem mencionar a palavra “burguesia”, ele salientou que, atualmente, o quadro mudou e boa parte da população tem acesso a crédito para comprar um carro. Encerrada a cerimônia, no Clube Monte Líbano, em São Paulo, Rebelo saiu rapidamente sem ser assediado pelos executivos presentes.

É preciso reconhecer que o ministro não falou nenhuma mentira, mas teria sido mais útil se o discurso abordasse o futuro econômico do País. Em meio à maior recessão da história brasileira, as montadoras trabalham com níveis elevados de ociosidade. Dentre os representantes das montadoras que estavam no evento, o sentimento geral era de que o governo Dilma já acabou. Em pouco tempo, Rebelo não terá mais função executiva em Brasília. Talvez, por isso, o ministro comunista não tivesse muito mais a acrescentar na festa das montadoras.