20/10/2016 - 18:30
Terça-feira, 4 de outubro. O empresário André Jordan almoça tranquilamente no restaurante do sofisticado hotel Porto Bay, na região da Avenida Paulista, em São Paulo, quando um dos diretores da sua empresa adentra o recinto, ofegante. Pedindo desculpas, ele interrompe a refeição para dar uma notícia importantíssima: o português Antonio Guterrez acabava de ser escolhido o novo secretário-geral da ONU. “Mas isso é muito bom!”, exalta-se Jordan, dando um soco na mesa. “Era o melhor candidato.” O empresário, que nasceu na Polônia, mas veio ainda criança para o Brasil e está radicado em Portugal há mais de 40 anos, é amigo de Guterrez.
Sua relação com a política portuguesa vem de longa data. Quem o convenceu a se mudar para lá, por exemplo, foi Marcello Caetano, último presidente do Conselho do Estado Novo, como era chamado o regime autoritário de António Salazar. “Eu era contra a ditadura”, diz Jordan. “Meu pai (o empresário Henryk Spitzman Jordan) era muito próximo do Salazar. Mas eu só concordei em ir para Portugal quando o Marcello assumiu e prometeu dar mais liberdade.” Isso foi em 1972, dois anos antes da revolução que derrubou o governo. O motivo de sua vinda ao País, no entanto, não é contar história e nem relembrar o passado.
Além de se encontrar com outro amigo influente, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Jordan está lançando um novo empreendimento e quer vendê-lo a brasileiros. Trata-se do Lisbon Green Valley, um condomínio de alto padrão, nos arredores de Lisboa. Para isso, o Grupo Jordan instalou no hotel uma espécie de estande de vendas, onde recebeu uma série de potenciais parceiros e clientes. O projeto é uma extensão do bem sucedido Belas Clube Campo, um complexo de 140 hectares que inclui campo de golfe, piscinas, parque e até um centro de serviços médicos. “É um lugar voltado para famílias mais tradicionais, que prezam valores como conforto e segurança”, afirma o empresário.
Para adquirir um imóvel no local, é preciso desembolsar entre € 500 mil e € 600 mil, o equivalente R$ 2 milhões. Jordan acredita que há um grande mercado represado no Brasil, de pessoas na faixa dos 50 anos, que não fazem parte do 1% mais rico, mas possuem dinheiro para comprar uma casa no exterior, nesse valor. A ideia é posicionar Portugal como uma alternativa a Miami, que, nos últimos anos, foi o principal destino dos brasileiros. Essa mudança da Flórida para a Península Ibérica já vem acontecendo.
Segundo Léo Ickowicz, presidente da imobiliária Elite International Realty, focada na venda de imóveis para brasileiros nos Estados Unidos, o mercado americano está menos competitivo. “O auge foi entre 2011 e 2014”, diz Ickowicz. Naquela época, a média era de 300 vendas por mês, número que caiu para 140 este ano. “Só conseguimos manter o faturamento porque o tíquete médio cresceu.” Ou seja, o perfil do comprador brasileiro em Miami ficou mais concentrado na altíssima renda. O restante está indo para Portugal, como previu Jordan. Há, também, o fato de o governo português ter se esforçado para atrair investidores brasileiros.
“Portugal é a porta de entrada para a Europa”, afirma João Vasconcelos, secretário de Estado da Indústria do país. Jordan acredita que Brasil e Portugal deveriam estreitar os laços. Além das semelhanças culturais, o país está a poucas horas de voo dos principais centros europeus, como Londres (2h30) e Paris (2h20). Aos 84 anos, o empresário demonstra grande capacidade de ler e entender cenários político-econômicos complexos – talvez por isso, cultive tantas amizades nas altas rodas. Essa habilidade está refletida em seus empreendimentos, geralmente em lugares pouco valorizados, que acabam se transformando em grandes tacadas. O Quinta do Lago, construído na década de 1970, inicialmente tinha como público alvo a classe média portuguesa.
Hoje, suas casas custam milhões de euros e atraem celebridades, como a cantora Madonna. No final da década de 1980, Jordan transformou um decadente resort no Algarve em um dos maiores complexos turísticos da Europa, o Vilamoura XXI, com uma dezena de hotéis de quatro e cinco estrelas, marina, cassino e cinco campos de golfe. “É muito importante ter informações confiáveis”, diz Jordan, que trabalhou como jornalista no Brasil, na década de 1950, e até hoje mantém o hábito de ler os principais jornais do mundo, como o britânico Financial Times e o americano The New York Times. Vale a pena manter alguns hábitos.